O Brasil contava, em janeiro de 2018, com 452.801 médicos, o que dá uma razão de 2,18 médicos por mil habitantes. O dado integra o estudo Demografia Médica 2018, que traz dados sobre o número e a distribuição de médicos no Brasil, coordenado pelo professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Scheffer, com o apoio institucional do CFM e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
Em 2010, quando foi elaborado o primeiro estudo de Demografia Médica, a razão de médicos por habitante era menor (1,91 por grupo de mil). Naquele período, 16.058 deixaram a faculdade e ingressaram no sistema de saúde. Em 2016, esse número chegou a 18.753. Porém, a tendência é que ele aumente muito mais, devendo chegar a mais de 28 mil, em 2024.
De 1920 a 2017, o total de registros de médicos no país saltou de 14.031 para 451.777 (crescimento de 2.219,8%). No mesmo período, a população foi de 30.635.605 para 207.660.929 habitantes (aumento de 577,8%). Pelos dados, ao longo de 97 anos o total de médicos cresceu 3,7 vezes mais que o da população em geral. No entanto, esse fenômeno se acentuou nas últimas décadas. De 1970 até a atualidade, o total de profissionais da medicina cresceu 665,8%, ou 7,7 vezes. Por sua vez, a população brasileira aumentou 119,7%, ou 2,2 vezes.
Mulheres e jovens – Um fato que chama a atenção é a participação cada vez mais significativa da mulher dentro do contingente de profissionais médicos. Atualmente, os homens ainda são maioria entre os médicos, com 54,4% do total profissionais, ficando as mulheres com uma representação de 45,6%. Porém, essa distância vem caindo a cada ano, sendo que o sexo feminino já predomina entre os médicos mais jovens, sendo 57,4%, no grupo até 29 anos, e 53,7%, na faixa entre 30 e 34 anos.
Outra constatação é que a média de idade do conjunto dos médicos em atividade no país tem caído ao longo dos anos. Hoje, é de 45,4 anos. A tendência é resultado principalmente do aumento da entrada de novos médicos em função da abertura de mais cursos de Medicina.
Desigualdade – Apesar de a média nacional ser de 2,18 médico para cada grupo de mil habitantes, esse indicador difere muito de uma região para outra do país, materializando um quadro de desigualdade na distribuição geográfica medido também entre os estados, as capitais e os municípios do interior.
O Sudeste é a região com maior densidade médica por habitante (razão de 2,81) contra 1,16, no Norte, e 1,41, no Nordeste. Nos seus quatro estados, o Sudeste tem 244.304 médicos para uma população de 86.949.714 moradores. O estado de São Paulo, por sua vez, tem a mesma razão do Sudeste (2,81): concentra 21,7% da população e 28% do total de médicos do país.
Comparação – Quando se compara as porcentagens de médicos e de população por região com os números do conjunto do país, as desigualdades são mais visíveis. Por exemplo, na região Sudeste, onde moram 41,9% dos brasileiros, estão 54,1% dos médicos, ou mais da metade dos profissionais de todo o país.
Na região Norte ocorre o oposto: ali moram 8,6% da população brasileira e estão 4,6% dos médicos. No Nordeste vivem 27,6% dos habitantes do país – mais de 1/4 de toda a população – e 17,8% do conjunto de médicos. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, a porcentagem de habitantes é bastante próxima da parcela de médicos.
A Demografia Médica 2018 também analisou a distribuição dos médicos em função do tamanho da população dos 5.570 municípios do país. O estudo os agrupou segundo estratos, nos quais foram observados aspectos como números de médicos e de habitantes, as porcentagens correspondentes e a razão médico/habitante em cada grupo.
O estudo mostra que as 3.802 cidades brasileiras com até 20 mil moradores somam 32.227.796 habitantes e 11.657 médicos. Isso significa que os 15,5% da população do país, instalados nas menores cidades, contam com 2,6% do total de profissionais em atividade no país.
Por sua vez, as 42 cidades com mais de 500 mil habitantes somam 62.625.010 moradores e são atendidos por 271.366 médicos. Esse cálculo mostra que enquanto 30,2% da população vive nos grandes centros 60,2% dos médicos atuam nesses locais.
Situação desigual – Nas 3.802 localidades de até 20 mil moradores há menos de 0,40 médico por mil habitantes. Ou seja, em 68,3% das cidades brasileiras, há menos de um médico para mil moradores. Contudo, a situação é mais grave em 1.235 municípios brasileiros com até cinco mil habitantes que têm razão média de 0,30 médicos por grupo de mil habitantes.
Por sua vez, nas 268 cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes a razão é de 2,14. E nas 42 com mais de 500 mil habitantes a taxa é de 4,33 profissionais por mil moradores. O grupo das cidades maiores (acima de 500 mil habitantes) conta com 14,4 vezes mais médicos que o grupo das menores (até 5 mil habitantes).
Essa análise permite verificar que as taxas de médicos por habitantes mostram como o Brasil é um país de extremos, com cidades tão desprovidas de médicos quanto algumas localidades de países africanos. Por outro lado, constatou-se que em municípios entre 100 mil e 500 mil moradores esse índice fica próximo aos de países desenvolvidos. Já naqueles acima de 500 mil, a proporção médico/habitante muitas vezes supera à das nações europeias ricas.
Região
Nos 41 municípios abrangidos pela Delegacia Seccional de Lajeado do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), são 591 médicos ativos cadastrados. Uma média geral de 14,41 médicos por município. No entanto, sabe-se que essa média não corresponde à realidade. Municípios mais populosos têm demanda médica proporcional.
Postos de saúde
O atendimento nos postos de saúde dá uma dimensão da demanda dos médicos. Muitos profissionais prestam atendimento em mais de um município. A maioria se reveza entre o atendimento nos postos de saúde, nos consultórios e também em hospitais.
Em Arroio do Meio, que tem uma população estimada em 20.805 habitatantes, o atendimento na rede municipal, que inclui o Posto de Saúde Central, cinco Estratégias da Saúde da Família (ESF) e três unidades de saúde nos distritos, envolve 21 médicos. Além de clínico geral, o município conta com cinco especialidades: ginecologia, pediatria, dermatologia, cardiologia e cirurgia geral.
Em Capitão, que possui uma população estimada em 2.757 pessoas, o atendimento no posto de saúde é feito por três médicos. Dois clínicos gerais, mais um ginecologista que atende uma vez a cada 14 dias. A demanda básica da população é bem atendida no município, segundo o secretário de Saúde Jari Hunhoff. São, em média, 850 atendimentos mensais. As consultas com médicos especialistas são subsidiadas e feitas em outros municípios.
Em Travesseiro, que centraliza os atendimentos médicos no Centro Municipal de Saúde Dr. Menandro e, duas vezes por semana, no posto de Três Saltos Baixo, são quatro médicos que atendem. São três clínicos gerais e um pediatra para uma população de 2.336 habitantes.
Pouso Novo, que tem uma das menores populações da região, 1.639 habitantes, conta com o atendimento de seis profissionais médicos. São três clínicos gerais e mais três especialistas em pediatria, ginecologia e psiquiatria. Os atendimentos são feitos no posto de saúde e, em casos específicos, em visitas domiciliares.
Em Marques de Souza, o atendimento à população, estimada em 4.009 habitantes, é feito por cinco profissionais: dois da clínica geral, um da psiquiatria, um da pediatria e um da ginecologia. Os profissionais consultam na unidade de saúde localizada no centro e, uma vez por semana, no distrito de Bela Vista do Fão.