O músico e produtor Gabriel Meneghini Lermen, responsável pelo projeto MeMachine, de 27 anos, morador do Centro de Arroio do Meio, está vivendo uma nova fase em sua vida musical – a produção de música eletrônica. Recentemente uma de suas produções ficou entre as 100 mais vendidas do mundo no gênero Melodic House e Techno, no site BeatPort. No Spotify sua música já superou 10 mil plays, o que é considerado positivo para um estilo que não é tão comercial.
Acordeonista de raiz, por influência dos avôs Antônio Meneghini e Erno Lermen, aos 11 anos, Gabriel já esbanjava talento em eventos culturais locais e comunitários, com destaque para música italiana, alemã e gauchesca. Na adolescência, após muito esforço, aprendeu a tocar um segundo instrumento, o violão, na EMEF João Beda Körbes, o que o levou a tocar pop rock/indie com influências de música eletrônica em diferentes bandas.
Formado em Políticas Públicas pela UFRGS em 2017, retornou a Porto Alegre em 2019 e, por coincidência, o imóvel onde fixou residência ficava ao lado da Academia Internacional de Música Eletrônica (Aimec). Lermen acabou se matriculando para buscar expertise em torno da produção musical, que está um passo além da mera composição. “Sempre gostei de música eletrônica, mas até então as referências mais presentes em torno do estilo musical eram distantes. Um fato que me aproximou novamente desse universo foi um círculo de amizade iniciado em 2018, que frequentava festas eletrônicas”, revela.
Gabriel manteve o projeto pessoal em segredo até que durante a pandemia surgiu a oportunidade de participar de um concurso de remix nacional da música Hot Sun de Bruno Be, por uma das maiores gravadoras de música eletrônica nacional, a HUB Records. Sua remixagem teve boa aceitação na região, com quase mil visualizações no youtube, inclusive marcando presença nas redes sociais de pessoas aqui do Vale.
Com bastante material pronto e bem relacionado com a gravadora Thewav de Santa Maria (referência estadual no segmento), em abril foi convidado para lançar a música Polaris num álbum com outros 14 artistas de todas as partes do Brasil e do mundo. A música se destacou mundialmente e Gabriel já foi convidado para fazer um remix de outra faixa que integrou este álbum.
Segundo ele, a música eletrônica hoje é protagonista no mercado nacional juntamente com o sertanejo e funk. “As gravadoras não têm mais tanto interesse em bandas, preferem artistas solo por serem mais fáceis de gerenciar. Além do mais, a tomada de decisão é muito mais tranquila quando se trata de artista solo. A forma de produzir música também tornou-se muito democrática e acessível. Às vezes só é preciso de um bom fone de ouvido e um notebook para fazer uma ótima música, não é preciso mais ter um superestúdio cheio de equipamentos de ponta”.
Lermen revela que até a alta do dólar em 2015 acabou valorizando o mercado nacional do gênero que estava desprestigiado, havendo certo preconceito com artistas brasileiros. Com as festas rolando e os cachês dos artistas internacionais supervalorizados, os organizadores de evento tiveram a necessidade de voltar os olhos para os artistas nacionais, fazendo, na época, que houvesse o boom de artistas nacionais, que hoje são conhecidos de todo mundo, como Alok e Vintage Culture.
Por essa democratização e apelo comercial, a tendência é de que o estilo se mantenha em alta, frente a outros gêneros como o rock e pagode, que estão mais restritos a um público específico, apesar de fãs muito fiéis. “Tudo é cíclico. Fábricas de guitarra saíram da falência durante a pandemia. Isso pode refletir no mercado daqui há uns anos. Existem gêneros musicais que vêm e voltam”, avalia.
Apesar do crescimento da música eletrônica em mercado, na região são poucos artistas produzindo. Além de Gabriel, se destacam nos Vales Doug C., Rafael Cappeli, Luiz Togni, William Knorst. Entre as casas de festa estão a Camarão Stories, Opium em Lajeado, Beehive em Passo Fundo, Levels, Maori, Arruaça, Coletivo T e Coletivo Plano em Porto Alegre, e inúmeros coletivos independentes em espaços públicos e abertos em todo o RS. “São festas diferentes. Com superestrutura de som, mas com o público conhecendo o estilo musical e ciente do trabalho dos artistas. Com a pandemia os eventos paralisaram num todo. Acabei tocando apenas em festas com limitação de público, muito reduzido.
Mas se engana quem pensa que a distribuição nos canais virtuais é lucrativa. Só dá rendimentos expressivos para artistas maiores, o que também gera poder de barganha com as gravadoras e distribuidoras. O artista de menor porte praticamente reinveste tudo em seu próprio projeto. A renda dos artistas de maneira geral depende muito dos shows. Integrar uma gravadora, abre uma visibilidade interessante para oportunidades futuras, tanto em produções como eventos”, diz Gabriel.
O artista é filho da vice-prefeita Adriana Celestina Meneghini Lermen e do empresário Carlos Lermen.