Depois de meses de protestos e manifestações pacíficas que se intensificaram após as eleições, uma grande massa de pessoas se dirigiu no último domingo para a Esplanada dos Ministérios em Brasília. Um grupo de manifestantes conseguiu passar pelas barreiras policiais e militares, que fazem e/ou deveriam fazer a segurança do local e invadiu inicialmente o Congresso e posteriormente os demais poderes. A Abin –Agência Brasileira de Inteligência segundo informou a Folha de São Paulo teria informado 48 órgãos do governo federal de que poderia haver atos de violência no domingo.
Imagens que correram os noticiários mostraram grandes estragos nas sedes dos poderes, incluindo o gabinete do ministro do STF Alexandre de Morais. O plenário foi depredado e com a ativação do sistema de água contra incêndios houve inundação. O custo da depredação do patrimônio público foi sendo levantado e calculado durante a semana. Os invasores e manifestantes ( alguns ficaram do lado de fora) foram se organizando desde a semana passada, quando saíram dos acampamentos em frentes a QGs do Exército e optaram por pressionar em frente aos Três Poderes, inconformados com o descaso e falta de transparência como foi conduzido o processo eleitoral e por ações jurídicas e políticas consideradas autoritárias e arbitrárias que partiram principalmente do STF como prisões, censura, multas contra empresários, jornalistas, políticos de oposição e pessoas comuns.
O que ocorreu na tarde até o início da noite de domingo foi uma ação violenta, descontrolada e que teve uma repercussão negativa principalmente para os que estavam empunhando a bandeira do patriotismo. Os atos deverão ser rigorosamente investigados, considerando que entre os chamados patriotas, havia o temor e alertas em relação a possíveis infiltrados, nas manifestações, anteriores. Haverá investigação, para responsabilizar os atos criminosos? Será fundamental saber quem é quem e para que não haja injustiças, uma vez que havia entre os grupos pessoas de todo o país, incluindo pessoas de Arroio do Meio e região, a maioria gente de bem. Mas há um temor e risco, pelas movimentações já ocorridas e pelo que reza a cartilha, que os atos de domingo sirvam de justificativa para restringir ainda mais as liberdades individuais e a tão falada democracia, que é defendida por óbvio em reuniões, manifestos, mas na prática nem sempre vivenciada.
Atos de vandalismo e destruição de patrimônio público e invasões em Brasília que não podem ser tolerados já ocorreram anteriormente. Basta pesquisar em jornais da época. Em 2013, protestos pediam recursos para a Educação e Saúde e contra gastos exagerados na Copa das Confederações e do Mundo. Em maio de 2017 todos os prédios da Esplanada foram evacuados após manifestantes colocarem fogo e quebrarem vidros, picharem paredes. Em 2006 manifestantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) invadiram parte da Câmara e entraram em confronto com a Segurança, o que resultou em depredações, feridos e presos. Ao longo dos anos, estas invasões e manifestações foram relativizadas, pela Esquerda, o que demonstra que nossa democracia tem suas fragilidades, mas teremos que mantê-la. Não se pode dizer que um país é democrático apenas em discursos. Exige líderes que se façam respeitar pela sua coerência, pela credibilidade, confiança que passam pelas palavras, atos, trajetória e respeito à legalidade. A democracia exige líderes que são pacifistas, probos e que não almejam o poder a qualquer preço ou pela força autoritária. A democracia não pode valer apenas pra um lado. O governo federal através do presidente Luís Inácio Lula da Silva foi duro em relação aos manifestantes e na sua primeira semana de governo, tomou várias medidas entre elas a intervenção federal, no distrito federal e atribuiu as responsabilidades ao governo anterior e ao do Distrito Federal, cujo governador Ibaneis Rocha e secretário de segurança pública Anderson Torres, que foi Ministro da Justiça de Bolsonaro. Foi mais um que teve prisão decretada pelo Alexandre de Morais.
Infelizmente, quem acompanha a politica nacional mais de perto tem visto o quanto há uma inversão de valores. O quanto as forças se acomodam diante de conveniências e blindagens de “quem pode mais, chora menos.” Notadamente houve forte interferência entre os poderes, principalmente por parte do Judiciário que nunca foi tão político, quanto na história recente e acabou intimidando inclusive deputados e senadores. Sob a capa da quase vitalidade no cargo e avanço em ações isoladas e ilegais ministros da justiça se tornaram personalidades impopulares.
Em apenas uma semana de governo, Lula seus nove partidos apoiadores, 37 ministros, enfrentam como maior desafio pacificar a Nação. Não poderá ser pela força, aparelhando instituições e pagando milhões para meia dúzia de grupos de mídia para mascarar a realidade. Quem poderá contribuir decisivamente para o restabelecimento da democracia e o andamento normal do país, será o futuro Congresso. Deputados e senadores eleitos em outubro tomam posse dia 1 de fevereiro. Lula tem poder e carisma para dialogar de forma produtiva e construtiva com as instituições e não repetir erros do passado. Fez reuniões decisivas esta semana com governadores com chamada para o restabelecimento da democracia. Porém, se Bolsonaro era condenado pelas palavras, cabe o mesmo ao atual Chefe do Governo Federal. Será preciso deixar as mágoas de lado e pensar mais no Brasil do que no projeto da América Latina. Se abrir para todos os setores da sociedade, e também para os setores produtivos, inclusive o agronegócio , que sustentam o Estado que é oneroso e pesado no Brasil.
Por aqui, distantes desta confusão de Brasília, mas que afeta a todos nós, vamos trabalhando e lutando, com afinco. Estamos dando nos municípios exemplo de unidade, ações construtivas, produtivas, responsáveis, respeitosas e democráticas.