Estou planejando convidar amigos para jantar em casa. Gosto de estar junto de pessoas queridas. Se for ao redor da boa mesa, melhor ainda. E, embora você possa duvidar, também gosto de lidar com receitas e panelas.
Bom, eu folheava uma revista de culinária, quando deparei uma matéria ensinando a preparar um jantar para seis pessoas no período de uma hora.
Isto mesmo! Era uma reportagem extensa. Ia marcando no relógio os minutos necessários para cada movimento, desde a chegada em casa com as compras até a hora em que as visitas tocam a campainha. Descrevia a ação do começo ao fim, a sequência inteira. O que fazer primeiro e o que fazer depois, de um tal jeito a incluir, nos sessenta minutos, tempo para arrumar a mesa, tomar banho, vestir-se e abrir a porta para os convidados com uma cara sorridente. Encontrava espaço, igualmente, para anfitrião preparar um drinque e relaxar um pouco, antes da chegada das visitas.
Fiquei impressionada com a descrição. Nem atletas olímpicos alcançariam melhor performance. Mas o que me toca mais é o significado do sucesso. Quero dizer, o que me impressiona é o afã de viver a mil por hora.
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O fato é que, à medida que amadurecemos, a percepção do tempo vai se transformando. Vamos ficando mais e mais cabreiros com essa história de viver na correria. Ao contrário do que podereria parecer, a juventude tem muito mais pressa do que os velhos. A juventude adora a velocidade, quer fazer tudo a jato, crente de que assim aproveita mais a vida. O fato é que a correria ajuda pouco. Um ditado português diz que a pressa faz parir cachorro cego.
Quem sabe aproveitar de fato a vida – eu penso – conhece o sabor de curtir cada minuto. Boa parte do prazer de uma festa, por exemplo, está na sua preparação. Vale a mesma coisa no caso de um jantar. Legal não é vencer todas as etapas como se fosse maratona. Legal é desfrutar o processo todo. Muito da graça de um churrasco, você sabe, é exatamente fazer o churrasco. É ou não é? Papear, vigiar a carne sobre as brasas, tomar um gole, sentir o cheiro bom do assado, etc. Seria engano entender que mastigar é a única parte boa.
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Se for necessário preparar o jantar para os amigos em uma hora, tá bem. Que seja! Mas fica combinado que isso é uma emergência. Em condições normais, viva a alegria de picar, frigir, mexer, gratinar e temperar! Viva a satisfação de degustar o passo a passo com prazer igual ao de saborear o resultado.
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Olha só a ideia que ouvi de alguém sobre este tema. O problema da pressa – disse o cara – é que ela rouba a chance de aproveitar o tempo. Não parece, mas a pressa é que faz perder o tempo.