Neste momento, no meu emprego, estamos em processo de mudança. São dias turbulentos, de incertezas, dúvidas, ansiedade à flor da idade. No dia de hoje o fechamento do prédio será consumado para reformas. A partir de segunda-feira estaremos em home office, modalidade que ganhou força nos dois anos de pandemia. Por alguns meses trabalharemos em casa, o que me deixa bastante apreensivo.
No processo diário de encaixotar, etiquetar e jogar muita coisa fora, constato a incrível capacidade de algumas pessoas para acumular objetos e papéis desnecessários. Mudar de casa ou de emprego evita o acúmulo de tralhas. Impossibilitadas de carregar tudo que juntaram, as pessoas se veem obrigadas a descartar entulhos de vários anos.
Outra característica dos tempos de mudança é a dificuldade em sair da “zona de conforto”. Trocar uma cadeira, substituir um armário ou trocar um computador para muitos significa enorme sacrifício. O cotidiano nos invade sorrateiramente. Somos tomados pela inércia para alterar pequenas rotinas.
No local de trabalho, a dificuldade de mudar ambientes é ainda maior pela sensação de posse do ser humano. No ano passado meu local de trabalho foi assolado por um ataque hacker. Foram 60 dias em casa, sem acesso aos computadores, invadidos por um pirata da internet. Nenhum dado foi surrupiado, não houve pedido de resgate e depois de algumas semanas tudo voltou à normalidade.
Alguns até gostariam de usar máquinas de escrever,
TV preto e branco, carro a gasogênio e caneta tinteiro
Assim que os trabalhos foram retomados, o responsável pelo setor de informática determinou que por questão de segurança a cada seis meses deveríamos trocar a senha de acesso aos computadores. Parecia um detalhe imperceptível depois da invasão, mas foi o suficiente para provocar irritação, medo e revolta em alguns:
– Como assim? Há 20 anos uso a mesma senha que levei tempo para criar porque é a junção do nome dos meus dois filhos. Nem adianta pedir! Não vou mudar coisa nenhuma! – Bradou uma colega visivelmente transtornada.
O episódio é um exemplo da dificuldade para alterar hábitos, por mais prosaicos que sejam. Ao contrário da gurizada, viciada em tecnologia e que adora uma novidade, existe uma legião de refratários às mudanças. Se pudessem, talvez ainda estivessem usando máquina de escrever, tevê em preto e branco, carro a gasogênio ou caneta tinteiro.