Domingo assisti pela tevê a uma extensa reportagem sobre a Doença de Parkinson. Por pedido de familiares e dos próprios pacientes – e para evitar a discriminação -, a moléstia deixou de ser chamada de “Mal de Parkinson”. O centro da matéria televisiva tratava da eficiência da prática do pingue-pongue no tratamento dos sintomas. O esporte, dizia o repórter, opera milagres na recuperação de movimentos.
As doenças degenerativas se constituem no fantasma dos idosos como eu que temem ficar incapacitados para realizar as mais corriqueiras tarefas. Ansioso, hiperativo e pouco afeito a realizar check-ups, procuro evitar conteúdos referentes aos diversos tipos de moléstias do tipo. Tal um avestruz que mete a cabeça no buraco para fugir do perigo.
Vejo inúmeros amigos que se transformaram em reféns de cuidadores – função de familiares ou de pessoas contratadas – para sobreviver. Ativos, criativos e trabalhadores outrora nem de longe lembram o talento que marcou suas carreiras profissionais.
Diante dele dói disfarçar minha incredulidade diante de pessoas que são pálidas amostras do que já foram. O destino prega peças impossíveis de prever. Ao longo da vida, os afazeres na busca de sustento acabam por nos distrair a ponto de adiar exames preventivos.
Pensar em ser acometido por uma
doença degenerativa me provoca insônia
A rotina também embaça nossa vista para reparar em inequívocos sinais de alerta emitidos pelo organismo. Muitos, como eu, preferem ignorar sintomas que, anos depois, se transformam em evidências cristalinas do mal que nos atormentará na maturidade.
A velhice é um doloroso exercício de sobrevivência, um desafio para manter a energia, mas jamais aquela de outrora. Apesar das dificuldades é preciso encontrar forças para reagir, para levantar da poltrona, desligar a tevê, caminhar, fazer exercícios, espantar a preguiça.
Solidão, desânimo e depressão são inimigos silenciosos a corroer lentamente a nossa resistência. Os velhos, como eu, são tolerados. Sim, é duro admitir, mas existe uma aura de hipocrisia sobre nós, cujas limitações rendem ofensas no trânsito, no supermercado, em todos os ambientes.
É utopia sonhar com a reverência dos países orientais. Lá, os anciãos são tratados como sábios. Pensar em ser acometido por uma doença degenerativa me provoca insônia. Busco motivação para fazer a caminhada de uma hora, seguida de exercícios para as dores do nervo ciático e das hérnias de disco.
É preciso reagir enquanto tenho consciência do que precisa ser feito.