Ivete Kist
Professora da área de Letras
Na semana passada comemorou-se o dia internacional da mulher. A data rendeu festas, flores e muitas matérias nos jornais, rádio e TV. Não sei se faltou dizer alguma coisa. Provavelmente, não.
Em todo o caso, aqui vai minha colher no assunto. Para as mulheres – e para o bem-estar da sociedade como um todo – há bastante coisa a festejar. Houve avanço grande nos últimos anos. A palavra hierarquia cedeu espaço para a palavra cooperação e o vocábulo obediência viu diminuído o seu prestígio. Acho bom que se fale nisso. Comemorar ajuda a consolidar o caminho andado.
Dentre todas, considero que a mudança mais importante foi acontecendo em termos do direito de escolher.
Antigamente havia um trilho mais ou menos único e se esperava que tanto homens como mulheres andassem nele. Seguir o “trilho” queria dizer, na prática, que a gente mandava pouco na própria vida. O roteiro da existência vinha num pacote e quem quisesse ser aceito socialmente se obrigava a caber no tal pacote.
Assim, por exemplo, era importante casar e ser feliz para sempre. Outra coisa, quem casava casava de papel passado e tinha filhos, e mais de um, de preferência. A homossexualidade, por outro lado, não existia. Estava ainda por ser inventada como possibilidade, no catálogo oficial de formas de relacionamento.
Também era importante que as mulheres seguissem as profissões femininas e que deixassem os ofícios masculinos exclusivamente para eles. Era óbvio que as mulheres deviam se vestir como as mulheres deviam se vestir. Nada de imitar os trajes masculinos. Acatar as cores e os cortes que salvaguardassem a modéstia e o recato era imperioso. Em público, elas não tinham opinião, não fumavam e não bebiam. As mulheres não dirigiam carro e não manifestavam contrariedade. Em vez de ajudar a decidir, as mulheres concordavam com quem estava incumbido de saber das coisas.
Quem quisesse ser diferente que tratasse de se esconder. Cabia dissimular. Era preferível fingir do que remar contra a corrente. Aliás, fingimento até podia passar como virtude. Talvez ganhasse o nome de abnegação. Talvez fosse chamado de renúncia ou sacrifício.
A liberdade para seguir cada um o seu nariz vem avançando gradualmente. Escolher um jeito de viver que contemple mais as tendências e os projetos pessoais ganha terreno e não é mais entendido como um defeito a corrigir.
Pode parecer pouco. Mas faz uma diferença colossal.