É quase impossível motivar alguém que perdeu tudo. E o que dizer destes que pela terceira vez viram todo patrimônio esvair-se em um espaço de sete meses. Assistir a todo este drama à distância potencializa o sofrimento. Dói muito ver depoimentos de revolta e desalento.
Parece fácil dizer frases do tipo “não foi a primeira vez, por isso vamos nos reerguer outra vez”. Isto é adotar uma postura conformista diante de pessoas que saíram às pressas de casa, expulsas pela fúria das águas.
Como acreditar que um dia teremos o retorno da normalidade?
O que durante décadas parecia impossível aconteceu. A histórica enchente de 1941, que povoou a infância e adolescência de sessentões – como este cronista – reinou por mais de 80 anos com a pecha de “a pior catástrofe já registrada no Rio Grande do Sul”.
Ouvi inúmeras histórias de meus pais e avós do que era considerado um fenômeno que jamais se repetiria. Lugares jamais atingidos foram encobertos. Prédios, propriedades rurais e vidas. Tudo foi varrido. Mas em maio de 2014 não só tivemos a terceira enchente gigantesca em menos de um ano como batemos todos os recordes trágicos.
Apesar do egoísmo, acredito que é hora de
praticar a tão badalada empatia no cotidiano
O Vale do Taquari, a Região Metropolitana e a Serra gaúcha foram devastadas. Restou entulho, desespero, lamentações, vidas despedaçadas. Talvez o fio de esperança resida no espetacular comportamento do voluntariado. Sem as amarras da burocracia dos órgãos públicos, cidadãos co-muns, vindos das mais variadas partes do Estado e do Brasil, acorreram ao Rio Grande do Sul.
Temos abrigos abarrotados de famílias. A tragédia completa um mês. A intrigante pergunta se impõe: qual o destino de todas estas pessoas? As inviáveis promessas de “uma casinha para cada um” não se tornarão realidade, ao menos tão cedo.
As prefeituras precisarão adquirir terrenos em lugares seguros para instalar complexos habitacionais, o que exige recursos gigantescos. Projetos desta natureza necessitam a instalação de infraestrutura de saneamento, energia elétrica, mobilidade urbana, além da dotação de órgãos de apoio. Como postos de saúde, unidades da Brigada Militar e rede de abastecimento, através de armazéns e supermercados.
De algum lugar brotará força. Tomara que seja através da união para fomentar soluções. Apesar do egoísmo, acredito que é hora de praticar a tão badalada empatia no cotidiano. E não apenas através das redes sociais.