Entrei no elevador e lá estava a moça com um cachorro preso na coleira. O cachorro era forte, passava da altura do meu joelho. Tenho de confessar que os cães não despertam minha paixão maior. Talvez por isso me senti pouco confortável. Menos confortável ainda, quando ele fez um movimento na minha direção. Nessa hora eu disse para a moça que não gostaria que o cachorro se encostasse em mim. Ela saltou. Se eu tinha medo de cachorro não deveria ter tomado o mesmo elevador. Por que não esperara para descer sozinha? Mas eu não tenho medo de cachorro – respondi. Só não gosto que ele me toque com o focinho ou roce as minhas pernas.
Pra quê! A moça me descascou. Chamou de grossa e etc.
Quase achei graça no entusiasmo dela. Respondi que seria recomendável entender que nem todos gostam tanto de cachorros como ela.
Por sorte o elevador chegou no térreo. A moça se afastou xingando. Melhor de tudo foi eu não ter escutado o que ela saiu dizendo…
Sei que este assunto é uma casca de banana. Sei que estou nadando contra a correnteza. O que é que vou fazer? Cresci pensando que os cachorros serviam para cuidar da casa e deveriam ficar do lado de fora – vigilantes e alertas, garantindo o bem-estar dos donos. Só que as coisas mudaram, reconheço. Agora o bem-estar dos cães é a preocupação dos donos.
Não sou contra mudanças e sei que elas andam na direção que andam, independentemente do meu gosto. Quem tem que se adaptar sou eu.
Por isso, saí a pesquisar o tema.
Estou aprendendo muito. Vi que estão disponíveis planos de saúde e de tratamento odontológico para os pets. Vi que há creches para algumas horas e hotéis para temporadas longas. Há cuidadores que vêm em casa, brincam com o animalzinho, cuidam para que ele não se entedie e também arrumam a bagunça e fazem a necessária higiene, no final do turno. Há serviços estéticos, massagens, acupuntura, fisioterapia, terapia comportamental, tanto a domicílio como em clínicas. Além de roupas e adereços adequados para cada estação, que são itens já mais costumeiros.
Olhei anúncios. Descobri que em Nova Iorque um cuidador de pet pode cobrar até 35 dólares por hora. Aqui não sei quanto cobram. Em todo o caso, chegou a me ocorrer mudar de profissão. Provavelmente faltariam as qualificações necessárias. Pena! Mas dou a maior força se alguém aí cogitar redirecionamento de carreira. Duvido que cuidar de bichos seja mais difícil do que outras atividades que pagam muito menos.
Um escritor famoso disse que os animais são tão adoráveis, porque não fazem perguntas nem nos criticam. Eles ficam felizes só com a nossa companhia.
Tem razão. É bem mais fácil amar quem só nos adora. Não reclama. Não faz cara feia. Não dá desculpas. Não prega mentiras.
No fim das contas, a moça do elevador me prestou um serviço.
– Será que existem cursos para instruir-se no amor dos pets?