Circulou no final da semana passada uma dessas mensagens saborosas, que fazem a gente rir sozinha. Mas, fazem rir, principalmente, porque acertam na mosca. Dizia assim:
“Festinha da delegação olímpica brasileira segunda-feira. Meninos levam salgado e meninas levam medalha”.
Anos atrás, ninguém saberia sequer onde achar graça em um convite assim. De que meninas vocês estão falando? – perguntariam.
Voltando lá para o início das Olímpiadas, ainda na Grécia antiga, só encontramos atletas homens competindo e, igualmente, somente homens admitidos na plateia. O fato de os competidores se apresentarem despidos não justificava a exclusividade masculina nos jogos. Acontece que a nudez masculina era tida como um valor elevado e, por isso, reverenciada na cultura grega. Aliás, era o corpo masculino que simbolizava o ideal da beleza. A demonstração de força e de habilidade nos jogos revelava isso também. Não se estranhava que o evento fosse reservado para os homens.
As mulheres não participavam dos jogos olímpicos, porque a época não contemplava ambos os gêneros com as mesmas responsabilidades nem com as mesmas prerrogativas. Os papéis estavam divididos e separados. Para as mulheres ficava reservado o mundo doméstico. Para os homens, abria-se a vida pública. Só os homens eram cidadãos. Só eles votavam. Só eles iam à guerra. Só eles eram atores no teatro. Mesmo figuras femininas das peças teatrais eram representadas por homens. Nas arquibancadas dos teatros, as mulheres eram admitidas. Isso sim. Mas elas não atuavam no palco, ainda que pudessem ser personagens importantes nos enredos apresentados.
Ou seja, lá no começo, as Olímpiadas não eram coisa para meninas.
O mundo mudou.
Mantiveram-se os ideais gregos de valorizar a excelência, a superação, o congraçamento entre os povos nos jogos olímpicos. Mas são notáveis os acréscimos que foram sendo incorporados.
Nas Olímpiadas de 2024, as mulheres puderam competir em todas as modalidades de jogos e somaram praticamente a metade dos desportistas inscritos. Na caso da delegação brasileira, elas responderam por 55% dos participantes e conquistaram a maioria das medalhas.
Os atletas não competem mais despidos. Apresentar-se nu seria considerado indecente hoje em dia. E não acho que isso vá mudar em futuro próximo. O caso é que a indústria da moda entrou na parada. Os trajes se sofisticaram e grandes costureiros começaram a desenhar os uniformes. Além de mais prática e mais confortável, a vestimenta esportiva – dos homens e das mulheres – passou a ditar tendências de moda e a gerar cifras milionárias.
Com imagens da abertura e encerramento das Olímpiadas de Paris ainda bem presentes, é fácil acompanhar o pensamento dos filósofos gregos. Eles diziam que para ser feliz basta música e ginástica.