“Grande sertão: veredas” é um livro impressionante. Trata da saga dos jagunços, em peleias pelo sertão profundo. Um livro bárbaro – em todos os sentidos que esta palavra tem.
Seu autor, o mineiro João Guimarães Rosa, foi médico e diplomata. Tinha notável conhecimento de línguas: dominava 13 idiomas.
Pouca gente leu o livro “Grande sertão: veredas”.
O caso é que não se trata mesmo de um livro para toda a gente. Quem carece de sólida experiência de leitura não consegue encarar. Abandona o livro antes de se acostumar com um estilo tão peculiar, inovador. O texto foge de todas as simplificações. Pra começar, está cheio de expressões sertanejas, de palavras estrangeiras e de palavras inventadas. Não bastasse isso, o narrador da história embaralha diferentes pontos do passado e entremeia tudo com reflexões pessoais. O resultado é uma mistura intrincada e fascinante.
Não vou recomendar a leitura de “Grande sertão: veredas”.
Já passou meu tempo de professora, quando tinha a função de incentivar/recomendar (ou obrigar…) a seguir programas. A intenção agora é simplesmente atiçar nosso orgulho por façanhas brasileiras. Como esta de ter um escritor nosso como autor de livro que se coloca entre as grandes obras da arte universal.
Para deleite dos admiradores de João Guimarães Rosa, uma porção de obras baseadas em sua criação vêm sendo apresentadas na TV, no teatro e no cinema. Agora mesmo se encontram em cartaz várias adaptações, com destaque para “O diabo na rua no meio do redemunho”, onde sobressai a magistral atuação de Caio Blat.
Vou copiar, abaixo, algumas ideias do jagunço Riobaldo, aquele que conta a história em “Grande sertão: veredas”:
“Deus é paciência. O contrário é o diabo.
“Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo o rio… uma só para mim é pouca, talvez não me chegue.”
“Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto, que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.”
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
“Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo no meio do fel do desespero.
“Obedecer é mais fácil que entender.