Votar ou não votar, eis a questão!
Encerrado o pleito eleitoral na maioria dos municípios, fica a constatação de que a abstenção dos eleitores atinge índices muito altos em todo o país. Segundo o Tribunal, 21,71 % dos brasileiros aptos a votar não o fizeram.
Talvez não fosse o caso de se surpreender. Dá para dizer que o voto no Brasil, embora obrigatório, se tornou facultativo na prática. É tão fácil justificar a ausência e o valor da multa para quem não vota é irrisório. A tal ponto que o comparecimento às urnas acaba sendo encarado como uma decisão pessoal. Neste aspecto, aliás, nos aproximamos do que vigora na maioria das democracias. Somente umas duas dezenas de países no mundo têm o voto como uma obrigação. Não há evidências de que a obrigatoriedade aumente o número de votantes nem que, se todos votam, o resultado é melhor. Aliás, a obrigatoriedade estimula o voto nos candidatos com mais chance de ganhar – o chamado voto útil – e nos mais exóticos. Foi o célebre caso do rinoceronte “Cacareco”, que no ano de 1959 fez cem mil votos para vereador em São Paulo.
Sendo o voto compulsório ou facultativo, é fato que a abstenção vem aumentando em todo o mundo, ao menos desde 1960. Para explicar o fenômeno, muitos estudiosos tem se debruçado sobre o tema e alinhavam hipóteses.
A conclusão principal é que a causa não seria uma só. Várias se somam para justificar a ausência dos votantes. Por exemplo:
- As pessoas duvidam de que a sua participação individual faça diferença no resultado final. Ou seja, não sentem que o seu voto é uma forma de interferir eficazmente na vida política. Votar ou não votar seria, por isso, mais ou menos a mesma coisa.
- A frequência de processos eleitorais acaba gerando desinteresse. O fato de que a cada dois anos seja montado todo o processo, com rituais parecidos: horário eleitoral gratuito, carreatas, jingles, etc. contribuiria para banalizar o evento e desestimular os votantes.
- A abstenção às vezes é entendida como arma mais poderosa do que o voto, para avaliar candidatos, partidos e governos. A recusa em participar pode estar sendo encarada como uma forma de castigar os políticos e a organização social vigente.
- O costume de depreciar políticos, frequentemente alimentado pelos próprios políticos, que se apresentam como descomprometidos com a engrenagem vigente, também aumenta a descrença dos eleitores.
- A propaganda eleitoral, cada vez mais sofisticada, aplica em relação aos candidatos estratégias de venda que prometem maravilhas, mas que repetidamente se revelam falsas. O efeito é fazer os eleitores se sentirem como massa de manobra. Em vez de acreditar na “disneylandia” prometida pelos candidatos nos vídeos de campanha, os eleitores recusam o papel de inocentes úteis e caem fora, como jeito de mostrar sua contrariedade.