A experiência dos chineses com seus ditados, frases e registros que valorizam o andar do Tempo, tem servido com frequência a esta página, dezenas de vezes hospedeira da sabedoria oriental ao produzir o seu “Para ler e meditar”.
O ditado-título da Portal Mix de hoje é um dos mais expressivos entre os disponíveis na escrita chinesa e mostra que os séculos parecem guardar com respeito as frases a serem utilizadas na interação com o amanhã, iniciativa cada vez mais valorizada.
Desta feita, porém, a frase acima despertou-me para o fato de que ao ler um ditado talvez milenar, quanto este, sou forçado a imaginar a forma como ele foi acolhido, digamos, há cerca de 200 anos, ocasião em que a Arquiduquesa da Áustria – Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo – pedida em casamento por D. Pedro I, pensou no amanhã muito antes de qualquer brasileiro ou austríaco.
Quanto a estes, a oportunidade era tudo o que as autoridades austríacas e alemãs buscavam: uma forma de trabalhar a terra, chance que no seu próprio país era impossível, pelo excesso de pretendentes e falta de vagas a um emprego.
D. Leopoldina, ainda na Áustria, planejou toda a vinda e recepção dos colonos ao Brasil, tendo como destino, no caso que nos interessa, o RS, onde chegariam a 25 de julho de 1824, 72 anos depois dos açorianos, aportados em Porto Alegre.
Sempre guiada pela possibilidade de preparar o futuro com “sementes” (crianças e jovens), D. Leopoldina desenvolveu formas de distribuir terras e cultivá-las com a interação das autoridades brasileiras, o que resultou, no citado futuro, em 75 mil imigrantes alemães no ano de 1939, compreendendo 142 Colônias no Vale do Sinos e Caí, Planalto Central e Sul do estado gaúcho.
Nos primeiros 10 anos da imigração alemã, o Brasil já apresentava cerca de 15 cidades chamadas Leopoldina, ou derivação desta, como foi o caso de São Leopoldo, assim chamada para evitar um exagero de superposição de nomes.
O detalhe que deve ser ressaltado: o cuidado que os imigrantes receberam, de parte do Governo, transformou-se em desafio do ensino, à época, considerado fundamental para formar adultos responsáveis e dotados de todas as informações necessárias para que fossem “sementes úteis”, ou seja, capazes de assumir o controle de suas povoações, que logo no início eram apenas algumas casas “plantadas” ao longo de dezenas de milhares de hectares, distribuídos pelo governo do país.
Não posso deixar de lembrar: a 07 de setembro de 1822 – dois anos antes da chegada dos imigrantes alemães ao Brasil – quando D. Pedro I declarou “Independência ou Morte”, tinha em mãos uma correspondência de D. Leopoldina, aconselhando-o a fazer o que fez às margens do Ipiranga, em São Paulo.
Sessenta e seis anos depois – 1888 – foi a vez da Princesa Isabel precipitar o que não poderia mais ser negociado ou permitido.
A Segunda filha do Imperador D. Pedro II e D. Tereza Cristina, nascida a 29 de julho de 1846 – Isabel Cristina Leopoldina Augusta – foi a Segunda grande benção a quem o Brasil muito deve. É necessário dizer, neste caso, que o final da escravidão era um passo humano e histórico a ser dado, mas, ao fazê-lo, a Princesa, ao mesmo tempo, perderia o trono brasileiro, pelo confronto de opiniões e interesses de quem pensava o contrário. E eram muitos.
As “flores do futuro”, que começaram a ganhar forma na Lei do Ventre Livre ou dos Nascituros (1871), podem até haver brotado sem que ninguém soubesse do que a sabedoria chinesa achava do assunto.
Nos dias de hoje, porém, não há como ignorar que a História precisa ser construída pelos exemplos que ela mesma relata.
Quem cuidará do futuro, se todos os anos as “flores” são impedidas de ganhar condições de vida e educação, por greves que quase nunca obedecem aos requisitos mínimos para serem deflagradas?
Percentuais ridículos de aprovação nos concursos para professor e altíssimos no que refere a desistência ao aprendizado: o Brasil precisará apelar para a Monarquia?