A cada quatro anos, a Terra oferece uma rara oportunidade para que todos os países que a habitam possam mostrar o quanto valorizam a oportunidade de poderem viver mais e melhor.
O inesquecível espetáculo inaugural dos Jogos Olímpicos na China foi a senha para a abertura das portas e janelas de cada casa chinesa, revelando ao mundo com simplicidade, emoção e alegria, costumes e usos de um povo diferenciado e detentor de uma História fascinante.
Desde 1896, em Atenas, na Grécia, quando ocorreu a 1ª Olimpíada da Era Moderna, as vizinhanças ficaram mais próximas e a Terra parece ter aceitado seu papel de Lar da Humanidade.
Os Países-sede, a partir daí, esmeraram-se ao produzir eventos cada vez mais dignos de sua época e como resultado, é gratificante perguntar, sem medo da resposta: O Mundo, hoje, lembrará mais da Rússia pela Cortina de Ferro ou pelo ursinho Misha, que chorou nas Olimpíadas de 1980, em Moscou?
Até é possível que, por sua violência e efeitos, a Cortina de Ferro seja muito lembrada, mas foi com o ursinho Misha e a lágrima escorrida de seus olhos, naquela alegoria incomparável preparada pelo povo russo, que se teve a exata noção do sentimento e do povo do maior país do mundo em extensão (17.075.400 Km quadrados, mais do que o dobro do Brasil).
Mas, por ser um encontro esportivo, acima de tudo, a História registrará para sempre o desempenho dos países nas provas de cada modalidade. Na China, durante três semanas, estiveram presentes mais de cem países, mas apenas oitenta e sete tiveram a honra de registrar sua presença para a eternidade, subindo ao Podium para receber Medalhas de Ouro, Prata ou Bronze, em algumas das dezenas de modalidades.
Mesmo os sete países merecedores de apenas uma Medalha de Bronze, ao longo de todas as provas, saíram da China bem mais felizes e orgulhosos do que quando chegaram ao país dos Samurais – e da maior festa de abertura das Olimpíadas de que se tem notícia.
Por que o Brasil, após o balanço de cada Olimpíada, acaba sempre concluindo que poderia ter obtido melhores resultados na competição?
Basicamente porque, ao contrário do ideal olímpico estampado na frase do Barão de Coubertin, “O importante não é vencer, é competir”, o brasileiro consagrou uma outra frase, que não existe na retórica, mas sim na prática: “Quem não é primeiro, é último”. Ou seja, nós não cultuamos aquele que, depois de centenas de dias de esforço, trabalho e dedicação, classifica-se como Vice-Campeão em alguma modalidade. Ou é terceiro colocado. Nós praticamente só valorizamos o campeão e esquecemos que Campeões podem até nascer no biotipo, na força de vontade ou na persistência. Mas é preciso que nos conscientizemos, todos, de que, enquanto não for instalado, nas 100 principais cidades do País, um Centro de Formação em Esportes Olímpicos, com apoio do Governo e da Sociedade, a cada Olimpíada sempre teremos mais lamentos que sorrisos.
Sem esses Centros, no confronto permanente com os melhores do mundo, vejo escassas chances de revelar pérolas como Daiane, João Derly, João do Pulo ou Ademar Ferreira da Silva.
E milagres só são permitidos fora da área esportiva.