Vale do Taquari – Banheiros com poucas condições de uso, fiações antigas, janelas quebradas, falta de iluminação e de uma quadra esportiva coberta. Estas são algumas necessidades que os diretores eleitos e reeleitos das instituições estaduais tentam suprir nos próximos três anos.
Das cinco escolas da comarca de Arroio do Meio que participaram do processo, a Monsenhor Seger, de Travesseiro, apresenta o maior número de melhorias a serem feitas. Faltam iluminação no banheiro próximo à quadra esportiva, acesso para deficientes físicos e coberturas nos principais pontos usados pelos alunos.
Os dias de chuva são os mais problemáticos para os estudantes. A cancha de esportes e a escada de acesso ao segundo piso carecem de cobertura. Aulas de Educação Física precisam ser canceladas nestes períodos. Em dias de sol intenso, como os das últimas semanas, a disciplina precisa ser replanejada, para evitar exposição em demasia.
A dificuldade é mais intensa para os alunos do Ensino Médio. A modalidade é oferecida no município à noite, porque a maioria precisa trabalhar nas propriedades das famílias. “À noite, algumas alunas esperam o intervalo para irem ao banheiro”, conta uma funcionária.
O medo é compreensível: a estrutura foi construída ao lado da quadra de esportes, onde falta iluminação. O problema gera custos adicionais à diretoria. “Temos que contratar um ônibus para levar os alunos do Ensino Médio até o ginásio municipal, porque aqui não tem condições deles fazerem Educação Física”, conta a diretora eleita, Eloi Lisete Rockenbach.
Esta é uma preocupação dos gestores anteriores. Ressalta que alguns projetos foram encaminhados para a CRE, mas não receberam respostas. “Mas, a nossa escola está incluída no plano de reformas, então, acredito que as obras sairão até 2014.”
Situação semelhante ocorre na escola de Ensino Fundamental e Médio Guararapes, de Arroio do Meio. Reconduzido ao cargo principal, Paulo Bakes se fia na promessa do governo estadual de fazer algumas melhorias na estrutura.
Entre as principais necessidades: a implantação de novos sanitários nos banheiros, a instalação de extintores de incêndio, construção de acessos a cadeirantes e a reforma de algumas salas. “Temos um espaço construído, de madeira, que era para ser provisório mas se tornou permanente”, informa o diretor. Em alguns pontos, as madeiras apodreceram, devido as ações do tempo.
Proteção para as crianças
Marques de Souza conta com duas escolas estaduais de Ensino Fundamental consideradas rurais. Elas funcionam em Tamanduá (Henrique Geiss) e em Linha Atalho (Severino José Frainer). Nesta última, a principal necessidade é proteção para os alunos das séries iniciais.
A cancha de esportes foi construída em um terreno abaixo do prédio. Para chegarem lá, os alunos precisam descer uma escada com algumas curvas e sem corrimão. No intervalo, crianças pulam corda próximo do barranco, onde carece de uma tela de proteção.
Marlise Becker assume pela segunda vez a administração da Severino José Frainer. Admite que o acesso à quadra está em condições precárias. “Buscamos com o governo estadual a instalação de uma cobertura para o pátio, e nisso inclui uma tela cerca para proteger os estudantes.” E acrescenta: “Como os nossos alunos são do meio rural, eles estão acostumados e não tivemos nenhum acidente.”
Mas, a diretora aponta outra dificuldade para o corpo docente: a sobrecarga. Por ser uma instituição rural, ela carece de uma secretária e de uma coordenadora pedagógica. Os professores assumem estas funções, exigindo mais dedicação para evitar a queda na qualidade de ensino.
Segundo Marlise, esta é a principal meta para os próximos três anos. “Precisamos de monitores para melhorar os nossos resultados, dando mais tempo para os profissionais planejarem as aulas.”
As conquistas também são comemoradas. A escola recebeu, na terça-feira, um ponto de internet, uma das principais solicitações dos alunos das séries finais do Ensino Fundamental.
Falta de transporte escolar
Nove alunos do último ano do Ensino Fundamental da Escola Severino José Frainer se formam em dezembro. Querem continuar a estudar, mas muitos não têm condições de pagar pelo transporte escolar. A distância até a Ana Neri – única do município que oferece o Ensino Médio público – chega a dez quilômetros. Alia-se à distância, o medo de caminhar pelas estradas sinuosas de chão batido à noite, sem iluminação.
A maioria prefere cursar as disciplinas à noite. Enquanto o estado não oferece o transporte para estes alunos, buscam alternativas para continuarem os estudos e não se incluírem nas estatísticas de abandono escolar.
Diogo Stoll, 16, é um dos que escolheram o período noturno, para ajudar os pais na propriedade instalada em Linha Atalho. “Estamos conversando qual a melhor maneira, mas o problema é que pode ficar muito caro”, desabafa.
A família de Kelly Richter, também em Linha Atalho, compartilha a opinião de Stoll. “Se ela for estudar à noite, teremos de dar um jeito de pagar o transporte”, lamenta o pai.
Rejani Althhaus reconhece que a falta de transporte escolar aos alunos que moram mais longe contribui para a evasão escolar. O assunto deve ser incluído na agenda da próxima reunião com os pais, para ver como a diretoria pode auxiliar. Uma das possibilidades é solicitar o apoio da 3ª CRE.
Enquanto o governo estadual descumpre algumas de suas obrigações, os estudantes buscam as alternativas. É o caso de André Rodrigo Gross, 19. Por ter habilitação, leva a irmã, uma vizinha e outros dois amigos para a casa depois das aulas. “Não me atrapalha em nada ajudar.”
O problema está para o ano que vem. Gross se forma agora e os demais colegas – que estão no 1º e no 2º anos – não podem dirigir.
Parceria com as famílias
Todos os diretores reconhecem que o apoio dos familiares é fundamental. A Guararapes é uma das mais beneficiadas com este auxílio. O CPM da instituição foi o responsável por obras importantes, como o refeitório e a cobertura no pátio. As obras foram feitas com recursos de rifas e outras atividades.
O cenário é repetido em outra escolas, como em Marques de Souza. As instituições de Tamanduá e de Linha Atalho contam com a ajuda para algumas manutenções, como pinturas e pequenas obras.
Escola modelo
A Escola Estadual Ana Néri, no centro de Marques de Souza, pode ser considerada um modelo para a região. Todas as cinco salas de aula, mais a de vídeo, contam com ar-condicionado.
A melhoria foi gradativa, começando há três anos. Com o apoio do Círculo de Pais e Mestres (CPM), arrecadações e economias, a diretora Rejani Althaus – reconduzida ao cargo – comprou os aparelhos. “Deixamos de instalar na diretoria e na secretaria porque a prioridade eram os alunos.”
O projeto beneficiou, em especial, os alunos do noturno. Muitos chegavam cansados, devido ao trabalho em turno integral, e tinham dificuldades de se concentrar – em especial nos dias de calor. A situação se reverteu depois que os equipamentos foram instalados.
O terreno também conta com amplo acesso a cadeirantes e estrutura suficiente para atender os cerca de 150 alunos. Um prédio anexo está em reforma e abrigará novas salas de aula e uma cozinha.
Para Rejani, o principal desafio é preparar os alunos para o mercado de trabalho. Cita como prioridade buscar apoios para que a Ana Neri possa oferecer cursos técnicos e profissionalizantes.
Cita como exemplo o preenchimento de vagas em concursos públicos na região. Conforme ela, é comum alunos da região metropolitana terem mais sucesso por estarem melhores preparados, pois existem diversas instituições que oferecem estas especializações a custos mais baratos.