Em meados da década de 80 do século passado, todos sabiam, no país, que os traficantes constituíam a mais nova, poderosa e violenta organização do mal no Rio de Janeiro.
Sua força foi se compondo a cada eleição na Capital e no Estado, graças a um controle possível de manobrar, pois contou com o descaso e a incompetência de políticos despreparados e distantes da qualificação necessária para exercer o governo na Prefeitura da cidade e no governo do Estado.
Durante mais de 1/4 de século, traficantes de tudo o que fosse proibido – drogas, armas, bebidas, jogo, poder, influência, segurança, etc. – exerceram sua força e seu acesso no sentido de manobrar o que fosse possível – contando com a ajuda despreocupada dos próprios políticos, cujo descaso ignorava o que seria necessário para fortalecer o Poder público, o que significa dizer, consolidar o direito dos cidadãos.
Em mais de 24 anos, as eleições que lá se realizaram não conseguiram consolidar uma força capaz de combater o Poder dos Traficantes, uma vez que em nenhuma das oportunidades eleitorais o Partido que venceu a disputa pelo governo do Estado foi o mesmo que chegou à Prefeitura. Desta maneira, estava sendo praticada a tese segundo a qual “a melhor forma de governar era dividir as forças concorrentes”, o que atendia ao objetivo dos traficantes.
Os políticos que eram cobrados pela ausência de sua participação contra-atacavam com a desculpa de “ser mais importante a segurança da população”.
Enquanto isso, o controle do território pelas diversas facções criminosas se foi ampliando, passando a incluir os horários de circulação nas ruas pelos moradores, controles das visitas a eles feitas por vizinhos e parentes, teor das conversas, eventual fechamento de escolas em “feriados especiais” e fatos afins.
Quase ao final desse cabedal de desmandos, o pagamento de taxas de TV, internet, água e por aí vai, passou a ser os pingos que serviriam para derramar vários copos.
Foi a essa altura, que o governador do Rio de Janeiro decidiu recorrer à força e ao Poder de seu companheiro de luta, pelo menos naquela ocasião, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
O Brasil inteiro vinha acompanhando o desfile de ônibus e veículos incendiados no Rio de Janeiro, sem que nenhuma providência, até então, fosse tomada para coibir os abusos. A própria multidão, muitas vezes incitada à agressão, tomava parte na destruição, sem que se soubesse de punições a ela impostas.
O fim da “guerrilha” todos sabemos qual foi: a União fez a Força, a Lei foi estabelecida como deveria ter sido há muitos anos e o papel até então desempenhado pelo Rio de Janeiro passou a ser exercido por São Paulo, há cerca de poucos meses.
O detalhe que possibilitou a União e a consequente reação aos malfeitores foi o fato da Coligação Eleitoral montada pelo PMDB e PT, fato facilitador do diálogo certamente ocorrido, no qual o governador apelou ao Presidente, não havendo perda de Poder ou qualquer gesto de impotência ou mesmo demonstração de fraqueza, de parte a parte.
Aliás, a parceria que o Rio de Janeiro aproveitou e que São Paulo, de forma soberba e acrescento, desumana, negou-se a aceitar, nestes casos é sempre a melhor escolha. Li e ouvi que o governador paulista por duas vezes agradeceu a oferta da Presidenta mas não aceitou a parceria contra a desordem.
Terá ele pensado que cada morte criminosa em São Paulo poderá estar sendo lançada à conta de sua autossuficiência, de sua prepotência ou de sua falta de valorização pela vida alheia, na direta dependência de sua insensatez?