Provérbios e ditados são oceanos concentrados numa gota d’água. E costumam ser tão profundos e impactantes quanto os mares.
Trabalhados ao longo do tempo pela linguagem das ruas de cada povo, quanto mais simples mais utilizados se tornam, chegando mesmo a se constituir na forma de comunicação preferida pelas pessoas mais humildes.
Uma espécie de defesa: frases prontas, para se defenderem das armadilhas da linguagem.
Há certas frases que surgem e permanecem durante algum tempo, dando a ideia de estarem na fila para se transformar em ditado. “Governar é abrir estradas”, disse Washington Luiz, em 1927. O presidente que veio antes de Getúlio Vargas. Essa frase orientou todo o seu mandato mas, lamentavelmente, alguns a entenderam de maneira errada. O primeiro talvez tenha sido ele mesmo.
Governar não é só abrir estradas e mesmo quem tenha aberto várias delas – e da melhor qualidade – não pode esquecer as outras práticas de governo, senão termina mal. Como ele terminou.
Outros entenderam a frase no seu sentido mais restritivo: “Governar é abrir rodovias”, o que representou um golpe mortal para as ferrovias, que hoje unem países – inclusive construídas sob um oceano e permitem viajar 160km, na mais absoluta segurança.
Sem falar no transporte de cargas pesadas (um trem pode levar a carga de até 50 carretas) a um custo várias vezes menor que as rodovias e com os riscos dezenas de vezes inferiores.
A verdade é que, duas décadas depois, as ferrovias brasileiras sofreriam um processo de sucateamento – as hidrovias ainda esperavam ter o seu potencial reconhecido. Quadro que permanece até hoje, com exceção de alguns metrôs.
A febre das rodovias foi facilitada por Juscelino Kubitscheck (1956-1961), incentivador do desenvolvimento e da indústria automobilística, aliás, um ótimo presidente.
Neste último meio século, os automóveis multiplicaram-se de maneira inconcebível; ônibus e caminhões dividiram a responsabilidade de transportar quase 85% das pessoas e 90% da carga e tornaram-se presença obrigatória em cada canto do país, não só multiplicando sua quantidade, como também seu tamanho, peso e potência.
Diante de tudo isso, como estão as nossas rodovias?
Aumentaram em número e em extensão, mas um só dado chega para dimensionar suas carências: enquanto na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália as rodovias resistem até 25 anos, com pequenos reparos, no Brasil, aos 10 anos (e olhe lá) a maioria das estradas já está pedindo socorro.
Por quê?
Além de construídas com material, cuidados e tecnologia bem menos avançados (e mais baratos), nossas rodovias ainda são usadas para transportar cargas que, em dezenas de países, são embarcadas em trens e navios, sofrendo, em consequência, um óbvio desgaste de materiais.
Por todos estes motivos é que as manchetes dos jornais de todas as segundas-feiras, no RS, são sempre as mesmas, modificando-se apenas os números: “Fim de semana violento no trânsito: 15 mortes no RS”.
Voltando aos ditados: Já não está mais do que provado que este é um dos nossos grandes males? E para acabar com os grandes males, não são necessários grandes remédios? Onde estão as ferrovias? Onde as hidrovias?
Fiz várias entrevistas com Dilma Rousseff, a quem conheço do Século passado. Planejamento, qualidade de execução e ritmo é com ela mesma. Se ela entender que aí está a salvação do problema, assim será.