Fábulas, como todos sabem, são pequenas estórias que invariavelmente terminam numa lição de moral. Ao que se conhece, as fábulas existem desde o século VI A.C., tendo o grego Esopo como seu criador.
Mais de 2.200 anos depois, o francês La Fontaine (1621-1695) retomou a trilha de Esopo e o fez com tanta sensibilidade e eficiência que passou a integrar a Academia Francesa, sendo considerado o Pai da Moderna Fábula (“A Cigarra e a Formiga” e “A Raposa e as Uvas”, são de sua autoria ).
Não sei quem é o autor, mas conheço a fábula da Dona Gansa, que ciscava na busca de alimento quando deparou com um pequeno grão de trigo; imediatamente raciocinou: “ora, comer um grão de trigo não vai me servir para nada, já se eu plantá-lo, serei recompensada”…
Contente por sua feliz ideia, Dona Gansa procurou seus três melhores amigos e perguntou:
– Quem me ajuda a plantar este grão de trigo?
– Eu não, disse o patinho.
– Nem eu, disse o gatinho.
– Eu também não, disse o cachorrinho.
Dona Gansa teve a mesma resposta quando foi perguntando aos seus três amigos quem a ajudaria a cultivar, colher, debulhar, a levar o trigo até o moinho e a fazer o pão. Porém, quando perguntou a eles quem a ajudaria a comer o pão, a resposta veio definitiva e entusiasmada:
– Eu, eu, eu! Disseram em coro, o patinho, o gatinho e o cachorrinho.
– Pois agora – sentenciou Dona Gansa, quem vai comer o pão gostoso sou eu! Eu sozinha, já que fui a única que trabalhou para fazê-lo!
E se assim disse, melhor fez!
Pois bem: há mais de duas décadas, os governos federal e estadual, de maneira alternada, perguntam para os municípios gaúchos, hoje 497:
– Quem tem terreno onde se possa construir um presídio?
– Nós! Confirmaram cinco municípios, os únicos entusiasmados.
Bem mais tarde, o governo volta a perguntar:
– Quem disse que tem terreno para construir um presídio no município?
– Nós, – responderam dois dos cinco, já que nos outros três a população foi contra e os outros 491 fingiram que não era com eles.
– E segurança e tranquilidade para as famílias viverem felizes e os trabalhadores poderem sair e voltar vivos para casa, quem quer?
– Todos nós, – gritaram os municípios, em alto e bom tom.
Como resultado, a verba para a construção de mais de dez novos presídios no RS continua à disposição e enquanto Dona Gansa procura saber quem quer segurança para seus filhotes, o patinho, o gatinho e o cachorrinho continuam respondendo ao mesmo tempo:
– Eu, eu, eu!
Mas na hora de ceder a terra e autorizar a construção dos presídios para trancar os malfeitores, ninguém dá uma palavra.
Erro em dobro, diga-se de passagem.
Qual foi a última vez que alguém ouviu falar de crime violento cometido em Charqueadas (RS), onde existem 6 (seis) presídios?
É tão difícil assim, entender que onde estão os presídios, ali estará, dentro e fora, uma segurança redobrada?
Do jeito como o assunto construção de presídios vem sendo tratado no RS, é certo que o bolo de Dona Gansa, aqui, continuará sendo comido só pelo Lobo.