Lavras do Sul: um dia qualquer de um mês de 1950 ou 1951.
Não sei por que, mas lembro que um trator Massey Ferguson entrou em operação nas terras que meu pai arrendava para plantar trigo e ainda recordo que os seus favoritos eram Frontana, 35 ou o Ouro Negro, muitas vezes também presentes nas conversas sobre suas esperanças.
A cena inesquecível da minha infância foi registrada em uma foto na qual meu maior heroi-Ciro Moreau, pai e amigo- conduzia o trator por entre alguns trechos de terra cultivável, enquanto de pé, parecendo bem menor do que era, no trator ao seu lado estava este seu filho, orgulhoso e feliz por aquele raro momento de pura magia.
Eu tinha 7 ou 8 anos e meu pai era o Diretor Comercial da Cooperativa Agrícola de Lavras do Sul, cidade a qual voltei , em média, uma vez por década, ao longo de 55 anos, levado por uma teimosa e sempre obediente saudade.
Com esta pequena viagem no tempo, quero dizer que boa parte da minha vida pessoal e muito da trajetória profissional, teve a agricultura como companhia ou objetivo.
Naquela época, o soja estava completando talvez uma década de Brasil, mas em Lavras do Sul era uma ilustre desconhecida.
Fui encontrá-la nos primeiros anos da década de 70, já sem a companhia do meu insubstituível heroi de infância.
Acompanhei alguns momentos marcantes do soja no Brasil, vi seu crescimento, sua monocultura, a luta por um preço justo nos mercados nacional e internacional e a lenta tentativa da volta por cima, obtida por um esforço coletivo, de inviável descrição.
Tive a honra de ser um dos responsáveis pela apresentação que marcou a inauguração do Terminal Graneleiro da Cotrijuí no super-porto de Rio Grande, com direito a churrasco de tainha no espeto, servido no interior de um silo, tendo como convidados o presidente Emílio Garrastazu Médici e D.Sylla, sua esposa.
Convidado pela Cotrijuí, em novembro de 1973, estive na Feira”Brazil”Export, em Bruxelas, mega-evento no qual não só à Bélgica, mas à toda Europa, apresentou-se um Brasil gigantesco.
Uma maquete do Terminal Graneleiro da Cotrijuí e em movimento, mar, navios, guindastes, trens, caminhões, pessoas e muito soja, foi uma das mais belas atrações da Feira.
Graças a iniciativas como as citadas, a Cotrijuí passou a ocupar um lugar de merecido destaque entre as Cooperativas do país.
Hoje, quando os maiores especialistas prevêem que, dentro de poucos anos, o Brasil será o maior produtor de soja do mundo, gostaria de incluir dois nomes entre os que logo serão reverenciados como responsáveis pelo crescimento do grão da energia – como alimento e combustível – no território brasileiro: Luis Fogliatto e Rubens Ilgenfritz da Silva, heróis de uma luta desigual, desumana quase, porém necessária, porque fazia parte do caminho; elegeram a soja como seu mais importante objetivo e a ela deram seu tempo, seu entusiasmo, sua esperança e, no caso de Fogliatto, sua própria vida.
Penso ser de extrema justiça que o maior número possível de pessoas saiba quem esteve na linha de frente, a começar pela Cotrijuí, quando gigantescos sacrifícios foram exigidos durante muitos anos.
E mais: justo seria, neste ponto da História da Cooperativa, que sua existência passasse a receber o melhor e mais agradecido apoio e não a certeza do fechamento de suas portas e suas atividades, para sempre.
Assim “Soja”!