Aonde mesmo foi que tudo começou? Quantas vezes me fiz essa pergunta, na maioria das vezes, com um acento de arrependimento. Quando queremos olhar a ponta de um grande nó, a coisa já está muito mais do que enrolada. É o negócio feito às pressas, o investimento que só anda para trás, uma relação amorosa que de instável passou a chuvas e trovoadas ou qualquer problema maquiado pela omissão que acabou virando um monstro. Assim como a crise que devora a credibilidade de uma gigante estatal, como a Petrobrás, começou com uma gentil troca de favores e interesses – pequena e envolvente – as nossas irrefletidas ações igualmente precisam ser controladas.
“É um desleixo secular”, me garante seu Antônio, zelador da garagem onde deixo meu carro, no Centro Histórico de Porto Alegre. Ele diz que as pessoas estão cada vez tontas, e a vertigem a qual ele se refere é aquela desatenção provocada por dezenas de milhares de apelos eletrônicos, que entram em nossas vidas a cada instante. E filtramos muito pouco, ou melhor, evitamos apenas o que nos exigiria uma maior reflexão. Qualquer dúvida, consultamos o Google, ainda o grande buscador de qualquer coisa no mundo virtual.
E não é que seu Antônio está certo? Queremos frivolidades! É o que mostra o próximo Google, ao divulgar seu relatório com os itens mais pesquisados no site neste ano. No Brasil, o campeão foi BBB14. Seguido por Enem, Amor à Vida, Eleições e Eduardo Campos. Certo despropósito na ordem de buscas, não acham? No resto do mundo, o mais pesquisado foi o ator Robin Williams, seguido pela Copa do Mundo e o Ebola. Achei mais racional.
Enquanto o mundo queria saber sobre a morte trágica de Willians, aqui o povo buscou por Anitta – e seus dotes metafísicos de cantora – levando consigo hits musicais como o Lepo Lepo e a banda Psirico, que apareceram entre os itens mais procurados no país e também entre as bandas e as músicas de 2014.
Em outras palavras, ninguém quer saber algo muito cultural, ou político. Deixam a situação fluir assim, no ritmo da malícia que geralmente acaba em polícia (desculpem a rima). E aí o ilustre cidadão me pergunta qual a saída. Eu respondo que não está nos quadris da Anitta, nem na proposta marota dos lepos-lepos. Mas é isso que temos merecido a cada ano que termina.
Aliás, uma das perguntas mais frequentes do Google é como ganhar dinheiro e perder a barriga. Como se houvesse mágica para evitar coisas como criatividade, iniciativa e exercícios físicos. Estou barrigudo, mas não fiz esse tipo de busca no Google, embora reconheça que seguidamente me pergunte: “aonde foi mesmo que tudo começou?”