Meu pai foi vereador em Arroio do Meio. No tempo em que os representantes do povo não recebiam salário. A presença de personagens históricos em nossa casa – como Pedro Simon, Paulo Brossard, Odacir Klein, Arnesto Dalpian, Paulo Steiner, Benito Jacob Johann, Rubens Wienandts, Ireno Buttini, Erni Petry, Antônio Lorenzi e Elton Fensterseifer, entre outros – me transformou num viciado por política.
Além disso, tive o privilégio de trabalhar com deputados – estaduais e federais -, prefeitos, governadores, presidentes da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O acúmulo de experiência me fez um apaixonado por eleições municipais. Afinal, é na cidade que a vida acontece.
Guardo episódios da campanha de 1968 em que meu pai, Gilberto Delmar Jasper, elegeu-se vereador pelo MDB com a quarta maior votação, com 333 votos. Na Arena – e no geral – o campeão foi Leo Kist, com 388 votos. Arroio do Meio registrou 6.558 votos, elegendo como prefeito Benito Johann, da Arena, com 3.255 votos, contra 2.941 de Rubens Wienandts, do PMDB.
Lembro dos comícios realizados em armazéns no interior do município, iluminados com liquinhos que pendiam do teto. Certa feita, em Arroio Grande, choveu forte durante toda a reunião. No final, era impossível transpor o arroio que invadiu a estrada de chão batido. Todos os candidatos voltaram para casa encharcados e amontoados na carroceria de um caminhão. Os carros de passeio foram buscados no dia seguinte…
Bêbados interrompiam comícios com palavrões e xingamentos
Recordo, ainda, da “guerra dos santinhos” travada na madrugada que antecedia a eleição. Percorremos freneticamente todo o interior do município. Substituíamos a propaganda dos adversários colocadas sob os tarros de leite. Ao retornar, notamos que os rivais faziam a mesma coisa…
Não era raro a interferência de bêbados na plateia dos comícios, interrompendo os oradores.
– Tu é mentiroso, ladrão e sem vergonha! – esbravejou um deles, postado na primeira fileira de cadeiras de palha.
Era época de improvisar, sem marqueteiros e jingles elaborados. Se encarava os eleitores frente a frente. Era, também, tempo em que os candidatos pagavam pastel com cerveja gelada no final dos encontros políticos. As disputas eram acirradas e as apostas corriam soltas, envolvendo engradados de cerveja, churrascadas e dinheiro.
Crianças e jovens participavam das carreatas e caminhadas em vilas e picadas. A eleição de Arroio do Meio era apurada em Lajeado. A Rádio Independente era líder absoluta de audiência por dias a fio.
Findo o pleito, as apostas eram pagas, a gozação perdurava por algumas semanas, mas depois todos arregaçavam as mangas. E trabalhavam em favor do município. Quantas saudades…