Os fatos ocorridos durante um piquenique realizado por alunos do Colégio Alberto Torres, de Lajeado, é mais um episódio do conjunto de cenas dantescas que ganharam as manchetes envolvendo jovens. O massacre da escola de Suzano, em São Paulo, e o caso do menino Bernardo, de Três Passos, que monopolizou as atenções da imprensa na semana passada têm, na raiz, episódios de negligenciamento por parte dos pais.
A “terceirização” do processo de educação dos filhos é onipresente. Dentro de casa presencio situações semelhantes. Amigos de meus filhos passam um feriadão inteiro sem um contato sequer com os pais. Sequer um whatsapp ou tampouco uma ligação telefônica da família. Fico pasmo, porque monitoro a rotina dos meus filhos – apesar de já serem adultos – por zelo e para mostrar a eles o quanto são importantes e valorizados.
A vida moderna cobra dedicação nas multifunções do cotidiano. As mulheres, em especial, desempenham uma gama enorme de atividades, dentro e fora de casa, que levam à exaustão. Durante a fase da infância, é imprescindível dedicar-se aos pitocos. Sentar no chão para montar um quebra-cabeças ou brincar de boneca, exige comprometimento, sem celular ou computador à mão.
Para ser mãe ou pai não é preciso fazer curso, provar competência para o exercício das funções ou apresentar qualquer documento. Basta querer. Em menos de um ano, um novo ser nasce, cheio de vida e expectativas, pronto para ser moldado, preparado para ser feliz e amado. Infelizmente, muitas vezes, não é isso que acontece. Isto não depende de condições sociais. A proliferação de casos de negligenciamento não obedece à renda, raça ou religião.
O resultado deste descaso compromete o trabalho dos professores, exaustos de tantas dificuldades e funções. São eles que, dentro da sala de aula, precisam compatibilizar o trabalho de educador e de “adestrador” de pequenos marginais, que se prevalecem da ausência de limites. “Afeto com limites” é o lema do bom senso, que está longe de ser a realidade que se vislumbra na maioria das famílias.
Culpar os professores é argumento manjado dos pais ausentes que não assumem as suas responsabilidades. Lembremos do que diz o ditado “Se você não criar seu filho, um traficante vai adotá-lo!”. É um alerta realista, possível de ser constatado em diversos ambientes. Atos de vandalismo, violência exacerbada e desrespeito são rotinas turbinadas por álcool e drogas.
Mais que comoção e revolta, os recentes episódios servem de alerta para a conscientização sobre a importância de comprometimento na formação dos filhos. Existem muitas tentações que invadem a intimidade de jovens e crianças, através dos smartphones.
É impossível impor um controle total aos filhos. É fundamental firmar uma parceria com a gurizada e ser amigo, ainda na tenra idade. Na adolescência, conflitos e revoltas são potencializados, explodindo em comportamentos rebeldes e destrutivos.