Sou viciado em chocolate. Todos os dias depois do almoço no lugar da sobremesa – de preferência sagu, torta de bolacha ou mousse – abria a gaveta no trabalho para vislumbrar a imagem do paraíso. São várias marcas e tipos, mas o colesterol e a necessária mudança de hábitos estão transformando o vício em tortura.
Por recomendação da minha nutricionista, Fabrícia Duarte, tento há meses me reeducar, mas não é fácil. Em vez das barras de 200 gramas de chocolate ao leite, com avelã, flocos de arroz e outros quetais, tento a contragosto devorar pequenos tabletes multicoloridos com míseros cinco gramas. No rótulo as inscrições 34%, 65%, 70% e 80%.
Além de pequenas, estas amostras grátis de chocolate têm um sabor horrível diante dos verdadeiros chocolates. Soam como genéricos que têm cara, embalagem e aparência do produto verdadeiro, mas basta colocar na boca para sentir o embuste.
Como tudo na vida tem ao menos uma vantagem, isso acontece quando os colegas espicham as orelhas quando desembrulho os tabletes. Depois de três ou quatro vezes eles desistem de pedir uma amostra.
– “Masbá”… quando tu vai voltar a comprar chocolate de verdade, heim? – perguntam irritados, o que me conforta, em parte.
O mundo deve desculpas ao ovo frito,
o vilão da minha infância e adolescência
O vício do doce que faz mal à saúde no pós-almoço é acompanhado do infalível cafezinho, perfazendo uma dupla perfeita. Mas o amargor do chocolate alterou tudo. Não consigo me adaptar ao paladar destas pastilhas modernas que carregam no cacau puro.
Já ouvi dezenas de sermões sobre os efeitos nefastos da gordura hidrogenada, mas confesso que não me convencem. Lembro – e já contei neste espaço – da caça às bruxas de décadas passadas para criminalizar o ovo frito. Cresci sob o signo de que se tratava de um usina de colesterol que entupia veias, causava derrames e infartos e tudo de ruim que poderia matar o vivente.
Anos depois, de forma bem mais discreta que os alardes mórbidos, vem à ribalta que todas as pesquisas e estudos estavam equivocados. Enquanto galinhas lamentavam, nós, glutões sem medida, estouramos foguetes e espumantes para comemorar.
Tenho certeza de que meus netos serão parceiros de orgias gastronômicas regadas a chocolate “de verdade” para resgatar o bom nome desta iguaria. Aliás, há muitos anos cultivo uma bronca com estes trabalhos “científicos”. Nós jornalistas, adoramos dois tipos de notícia: as que envolvem grandes números e cifras e outra com conclusões bombásticas.
Ainda na luta contra esse vício, mais para agradar aos familiares que por convicção, não sei até quando vou devorar tabletes de chocolates “genéricos” que se comparam às bonecas infláveis e cervejas sem álcool. Afinal, se parecem, possuem forma, aroma e até consistência com o original. Mas bem de perto… nada têm a ver com os produtos autênticos!