Ter filhos é uma obra interminável. Eles são o maior tesouro da vida, mas fonte de eterna preocupação. “Filhos criados, problemas dobrados”, reza um dos tantos ditados que versam sobre o tema. Tenho filhos adultos com os quais tenho contato diário. Ficar sem notícias por um único dia gera um vazio de angústia que só termina quando ouço suas vozes ou leio uma mensagem.
Confesso que hoje em dia teria grande temor de criar filhos. A tecnologia, esta grande aliada que traz conforto, redução de distâncias e permite buscas rápidas de informações, também permite acessar conteúdos obscuros que corrompem jovens, compromete biografia de adultos e traz, para dentro de casa, perigo de deturpação de princípios e valores.
A falta de tempo, turbinada pela necessidade de jornadas de trabalho cada vez maiores por parte dos pais, gradativamente reduz a convivência. O uso do celular, hábito onipresente no cotidiano, leva os pais a brincarem com filhos pequenos, sentados no chão, sem descolar da telinha.
Flagrar crianças da mais tenra idade manuseando celulares com filmes, músicas e animações em restaurantes é cena comum. Os pais, ao invés de aproveitar o momento, também ficam ao telefone, muitas vezes sob o pretexto de trabalho.
Confesso que teria medo enorme
para educar filhos nos dias de hoje
Esta moderna “geração celular” é levada a priorizar a convivência digital em detrimento de encontros presenciais com os amigos. Para muitos pais, controlar os filhos sem invadir a privacidade da prole é uma tarefa desafiadora. A vida moderna exige conhecimentos mínimos de informática para detectar riscos que possam comprometer a educação dos herdeiros.
Com frequência encontro amigos que com incontida alegria disparam a notícia tão esperada:
– Sabe da maior novidade? Vamos ter um filho!
Confesso que sou invadido por uma confusão de sentimentos. É, sem dúvida, a melhor notícia que um casal pode difundir entre os amigos e parentes. Ao mesmo tempo, no entanto, diante do atropelo da tecnologia que expõe a privacidade alheia sem dó, eu teria grande receio de educar filhos nos padrões atuais.
Diálogo, interesse verdadeiro pelo cotidiano da gurizada e contato com os amigos são fórmulas surradas, mas cuja eficiência não tem concorrentes. Saber o nome dos melhores amigos que frequentam a nossa casa, conversar generalidades e não apenas sobre conteúdos escolares e se mostrar paciente e compreensivo completam um script que pode evitar grandes dores de cabeça. Não requer prática nem habilidade. Apenas sensibilidade.