Reportagem: Solano Link
A alta cotação do petróleo, principal matéria prima do Concreto Betuminoso Usinado a Quente (Cbuq) – camada asfáltica –, aliada a alta demanda por asfalto para obras de infraestrutura em todo RS e municípios, estão levando prefeitos e loteadores a reverem conceitos na execução de vias públicas. Algumas obras já estão com andamento mais lento devido a falta de CBUQ nas usinas.
O engenheiro Aldir de Bona, que acompanha obras públicas em Arroio do Meio e Capitão, observa que historicamente o pavimento rígido de concreto de cimento sempre foi mais caro. Além disso, poucas empresas dominam as normas técnicas de execução, que exigem malhas de ferro ou aço tensionadas por meio do uso de macacos hidráulicos, no espaçamento onde é colocado o concreto.
Contudo, De Bona destaca que se observadas às normas técnicas – dentro dos planos de malha de transferência e radier – a vida útil do concreto a base cimento é muito superior ao do CBUQ. Especialmente nos pontos de parada e arrancada, arrasto de rodas de veículos pesados ou onde o raio de curva é problemático. Cita como exemplos de obras bem executadas, a avenida Farrapos em Porto Alegre, corredores de ônibus na capital feitos para Copa do Mundo e recuos de paradas de ônibus em Lajeado. “Na Freeway acabou apresentando defeitos, possivelmente pelo solo litorâneo”, observa.
Dentre os pontos negativos compara o tempo de cura. Enquanto o concreto precisa mais de 14 dias para secar, o asfalto leva menos de dois dias, e em muitos casos a rodagem é liberada quase de maneira instantânea. “Na rodovia Regis Bittencourt de São Paulo, já estão utilizando um concreto à base de alumínio, importado de Israel, que seca em menos de duas horas”, revela.
Contudo, De Bona reforça, que faltam empresas especializadas em serviços de manutenção de pavimentações de concreto. “Recentemente uma pavimentação de concreto na Barra do Forqueta precisou passar pela Câmara de Vereadores, porque não temos Legislação específica […] a pedra de paralelepípedo ainda é o material mais durável para acabamentos. Indiferente do tipo de pavimento, uma base bem feita, com drenagem adequada, de rachões, brita graduada e compactações, é fundamental para qualquer tipo de pavimentação. Mesmo assim, em muitos casos, o eixo de estradas antigas se mostra mais confiável do que a base vias novas”, compara.
LEGISLAÇÃO DE PAVIMENTAÇÕES DESATUALIZADA
O proprietário da SMB Engenharia e Topografia, Samir Marcos Batistti, executou 3,5 mil metros quadrados de vias de concreto em um loteamento na Barra do Forqueta em Arroio do Meio, 6 mil m² em Marques de Souza, e vai executar 9 mil m² de vias em um loteamento industrial em Lajeado.
Ele destaca que está utilizando técnica de execução e qualidade bem superiores aos exigidos por lei, pois teve problemas com asfaltamentos. Além da região só contar com três empreiteiras que executam obras asfáltica, esclarece que loteadores e também municípios, não tem a mesma estrutura laboratorial do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), para exigências e garantias. Pela distância das usinas com o local de obra, muitas vezes o CBUQ, acaba vindo numa temperatura ou em condições inadequadas, que vão comprometer a qualidade do asfalto.
Em Arroio do Meio, a SMB foi a primeira implantar um loteamento de vias pavimentadas com paralelepípedos, em 2013. Fato que levou o município a padronizar a lei de Loteamentos em 2014. “O PavS, que tem 8cm de espessura possui resistência de 35 megapascais. Nas calçadas, usualmente são usadas camadas de 6cm de concreto e nas estradas 10cm. Estamos usando uma camada mínima de 15cm, com adição de uma fibra de polipropileno, que diminui as fissuras consideravelmente. Nas esquinas, cortantes e locais de arrasto, incluímos reforço de malha de ferro”, detalha.
Samir pontua que a Avenida Farrapos foi executada há mais de 40 anos quando a qualidade do concreto era muito inferior a atual. Também destaca a obra na rodoviária de Lajeado e no pátio de empresas que recebem diariamente veículos pesados.
No asfalto, a camada é de 4cm. Apesar do tempo de cura ser mais rápido, o asfalto é mais sensível ao calor e infiltrações, facilitando o surgimento de borrachudos e deteriorações. No concreto o tempo de cura sem aditivos leva em torno de 20 dias. O custo de camada de 15cm de concreto é 10% inferior a camada de 4cm de asfalto, mas durabilidade é infinitamente maior. A manutenção não chega a 10% das vias feitas com asfalto. “Algumas pessoas ligadas ao poder público até alegam que os municípios não possuem equipamentos para realizar a manutenção no concreto e que há pouca disponibilidade de mão de obra especializada. Mas isso também ocorre no asfalto, paralelepípedos e pavS”, expõe.