Até o domingo de Carnaval, Cristiane dos Santos era uma mãe anônima como tantas outras. A partir daí, aos 38 anos, ela tornou-se o centro das atenções porque o filho, Brian Grandi, 20 anos, desaparecera nas águas do rio Mampituba, em Torres. Uma ponte pênsil virou sob o peso da lotação além da capacidade durante os festejos da folia.
A agonia de Cristiane durou quatro dias. Na quinta-feira, o corpo do filho foi encontrado, morto por afogamento, em território catarinense. Diante da tragédia ocorrida no litoral de São Paulo, o episódio na divisa entre RS e SC pode soar menor, devido ao número de vítimas. Mas as circunstâncias da morte do jovem gaúcho exigem averiguação rigorosa e punição implacável.
Não é preciso ter filhos para se sensibilizar diante da imagem permeada pelas lágrimas de desespero da mãe. Sob a chuva torrencial – que agravava o clima de dramaticidade – ela olhava para o vazio. Negou conceder entrevistas. Silenciosamente ela mantinha a esperança de reencontrar o filho vivo, apesar dos indícios indicarem o contrário.
A irresponsabilidade de quem deveria fiscalizar a ponte pênsil, e desta maneira proteger os transeuntes, transcende a questão legal. Comprovada a tragédia, já é possível imaginar o revoltante script. As investigações irão apontar corrosão dos cabos (conclusão óbvia, afinal é uma área litorânea!), excesso de lotação e, no final, impossibilidade de apontar responsáveis.
Indiferente aos riscos fatais que a
ponte oferecia nada de concreto foi feito
A repetição de episódios trágicos sem um desfecho humano parece anestesiar a revolta. A sucessão de absurdos estampados todos os dias na mídia impede o devido foco para responsabilizações. A todos parece faltar ânimo e esperança para protestar. Consagrou-se a sensação de que tudo ficará por isso mesmo. Afinal, vivemos no país onde reina o ”não vai dar nada”. Infelizmente é raro ver-se a responsabilização e prisão dos culpados.
No caso da ponte pênsil que ligava Torres a Passo de Torres, é óbvio imaginar-se que em datas especiais que atraem multidões, como Natal, Ano Novo e Carnaval, haveria vigilância, fosse da guarda municipal ou de seguranças contratados pelas prefeituras. Além de apagadas placas de advertência, as autoridades devem ter comprometimento e responsabilidade para proteger a população que os elegeu.
Indiferente aos riscos fatais que a ponte oferecia, nada de efetivo foi feito. O resultado foi o sepultamento de Brian Grandi ao som de Last Kiss, música da banda Perl Jam que o jovem costumava tocar na guitarra. À Cristiane dos Santos resta dor, as lembranças e a revolta. Até quando?