Li dias atrás um texto memorável do Leandro Staudt, e que me trouxe memórias afetivas à tona e pasmem: que ainda perduram. Sobre os cadernos de fiado.
Meu pai tem um armazém na Forqueta, desses que vendem de tudo, de farinha, ovos a produtos de limpeza. Você encontra de tudo lá. Até ombro amigo para desabafar as mágoas. Tem o famoso joguinho de carta e o encontro de amigos também. Lá se fala o alemão e se acolhe a todos. Se acolhe, inclusive àqueles que por vários motivos não tem o dinheiro para pagar o que necessitam comprar naquele instante. Então meu pai desde o princípio, isso eu falo há mais de cinquenta anos, até hoje, tem as cadernetas ou caderninhos de dívidas, os caderninhos de fiado.
Nos caderninhos de “fiado” o dono do armazém anota o que é comprado, com a data e o preço do produto. O freguês olha e confere o que é anotado; às vezes, ele tem um para si também. O pai guarda no seu fichário. Tem muitos! E acreditem, tem de pessoas de muitos anos, e que após contato dizem que não pagarão. Sabe o que eu penso nessas horas, que isso fique na consciência, pois quando precisaram foram ajudados.
É tão singelo e tão ingênuo imaginar que ainda existam caderninhos de fiado em tempos tão tecnológicos. É a palavra sendo cumprida à risca. Eu assumo que vou pagar. A única garantia é o ‘fio do bigode’.
Os caderninhos são pequenos e graciosos. De cores variadas. O nome do cliente vai na frente. O pagamento é sempre combinado entre as partes; geralmente mensal.
Vale a pena ir, especialmente no interior, para encontrar relíquias como essas, viu Staudt! Os caderninhos de fiado são os cartões de crédito atuais. No armazém do Seu Aloísio ainda não chegou o Pix!