Quando somos jovens é comum sermos invadidos por dúvidas. Não temos experiência de vida, mas urge escolher a profissão. O primeiro desafio consiste na escolha da faculdade a ser cursada. É uma tarefa incômoda. É um período de oscilação de humor, de sonhos, ideais e da busca para acertar no “passaporte da felicidade”, uma ilusão que se desfaz assim que nos tornamos adultos.
Diferente do que imaginei quando era jovem, as hesitações continuam na idade adulta e perduram até agora, na velhice. Nesta fase, como devemos proceder? Fazer planos para médio prazo, correndo o risco de mais frustração, ou fazer diariamente o “feijão com arroz”, sob o risco de depressão? Ousar ou continuar levando a vida em banho maria, deixando o tempo escorrer entre os dedos?
Os dilemas da adolescência nos acompanham por toda a vida. A diferença são as nuances do que construímos ao longo da existência. A biografia de cada um tem como sustentáculo as amizades forjadas. Aquelas que atravessam o tempo e permanecem intactas.
A qualidade de vida dos últimos anos também depende das relações que mantivemos com nossos familiares. Em muitos casos eles serão os guardiões da nossa saúde, bem-estar e segurança até o desfecho.
Conviver em família requer disposição para apagar
ressentimentos, exercer o perdão, promover recomeços
Como em vários temas, a velhice no Brasil ocupa grandes espaços de discussão pública, mas o idoso continua tratado como estorvo. Há poucas políticas efetivas de atenção a este público. Estamos a anos-luz da tradição oriental que enxerga, no velho, sinônimo de sabedoria e de vasta experiência acumulada a ser apreendida.
Cuidar bem e reverenciar “os que têm mais de 60” também são tradição entre os judeus. Lá, entre as crianças, a palavra do idoso significa respeito e obediência. Por isso, é comum que famílias promovam encontros para que os avós transmitam a tradição às novas gerações.
Além das relações familiares – um terreno minado por conflitos e também afinidades – o conforto dos idosos depende muito de seu estado de saúde. Quando enfermo, situação bastante comum apesar dos avanços da medicina geriátrica, o velho se transforma em estorvo. Muitas vezes é jogado de um lado para outro no revezamento dos “cuidados” a que é submetido por parte dos filhos.
Cuidar dos velhos é tarefa complexa com intervenções específicas conforme o caso. Relações humanas implicam disposição para apagar ressentimentos, exercer o perdão, promover recomeços e recordar a importância daqueles que nos legaram a vida.