Famílias que ficaram sem casa ou que desejam mudar de endereço porque não querem mais passar pelo trauma de perder tudo para a enchente, estão com dificuldade para encontrar imóveis para alugar em Arroio do Meio. A demanda, que já não era expressiva antes da enchente, foi ampliada em grande escala praticamente de um dia para o outro. Com isso, muitas pessoas continuam abrigadas de forma provisória em casa de parentes ou amigos, além daquelas que ainda estão nos ginásios da escola João Beda Körbes, no Aimoré, e no do Sete de Setembro de São Caetano. Na terça-feira, dia 19, eram cerca de 90 pessoas abrigadas nos dois ginásios.
A indisponibilidade de imóveis para locação pode reduzir a eficácia do programa criado de forma emergencial pelo município para auxiliar quem foi afetado pela cheia. Por meio do aluguel social, o município vai custear R$ 400 mensais para famílias moradoras e não proprietárias de imóveis que foram levados pela água ou tiveram a estrutura comprometida, e R$ 800 para quem é proprietário e residia no imóvel que igualmente não tem mais condições de habitação.
Até a manhã desta quinta-feira, dia 21, (xx ??) pessoas já haviam se cadastrado para acessar o benefício. Os cadastros estão sendo feitos no setor de Planejamento e a análise será feita pelo Centro de Referência em Assistência Social (CRAS).
Disponibilidade já era baixa antes da enchente
No início da semana o sócio-proprietário da Executivo Imóveis, Paulo Inácio Frehlich, afirmava que não havia mais imóveis residenciais para alugar e a procura continuava em alta, com lista de espera. Em uma semana foram pelo menos 30 contratos de aluguel, um número muito acima do normal.
Como a oferta de casas ou apartamentos para locação já é reduzida ao natural, com a alta demanda foi preciso fazer um trabalho junto a proprietários de imóveis que estavam destinados à venda. “Tentamos sensibilizar os proprietários para que estes imóveis fossem disponibilizados para a locação, já que muitas pessoas ficaram sem ter onde morar e faziam apelo para que conseguíssemos um lugar. Também tentamos negociar para que imóveis com valor de aluguel mais alto, pudessem ser ofertados com valor menor. Entendemos que é hora de todos nos ajudarmos”, frisa.
Apesar do esforço, a demanda por locação ainda é alta e não será resolvida de um dia para o outro. Para o empresário, em Arroio do Meio, diferentemente de Lajeado, se investe menos em imóveis para a locação e mais para a venda. Por isso, historicamente, a disponibilidade é menor. Frehlich ainda pondera que as pessoas vão percebendo o quão prático é morar no Centro, o que faz com que a maioria dos imóveis disponíveis já estejam alugados. “Hoje o que mais falta em Arroio do Meio são casas cercadas para alugar. Quem tem um animalzinho de estimação prefere casa, por causa do pátio. Mas é uma raridade, muito difícil de se achar”.
A enchente também ampliou a procura pela compra de imóveis. Segundo Paulo, na última semana foram concretizados pelo menos dois negócios.
Pouca oferta, muita demanda
Para o empresário Joner Kern não há oferta para atender a atual demanda, superaquecida em função da enchente, que devastou um grande número de residências. Isto porque já havia poucos imóveis residenciais para serem alugados e a enchente fez com que a procura desse um salto gigante. A situação fica ainda mais difícil quando se trata de casas ou apartamento com valor do aluguel abaixo de R$ 1 mil, que se enquadraria no programa de aluguel social proposto pelo município. “Não tem imóveis neste padrão para alugar”, define.
Joner acredita que uma boa alternativa neste momento seria uma mudança excepcional no programa Minha Casa Minha Vida liberando, em Arroio do Meio, a necessidade da entrada de 20%. Assim, as famílias financiariam o imóvel na sua totalidade. Avalia que seria uma medida interessante, pois hoje o que impede muitos financiamentos é o fato de as pessoas não terem o valor exigido para a entrada.
Um contexto desafiador
A alta procura por locação residencial na Porte Empreendimentos Imobiliários iniciou logo depois que a água baixou, deixando os estragos à mostra. A empresária Marcilene Nilsson destaca que é um contexto desafiador, já que muitas famílias ficaram sem ter onde morar e, ao mesmo tempo, Arroio do Meio não tem uma grande oferta de imóveis para locação. Todos os que estavam cadastrados na imobiliária foram alugados praticamente nos primeiros dias pós-enchente.
Na terça-feira, dia 19, havia apenas um apartamento disponível e algumas possibilidades de oferta futura, com imóveis em fase final de reforma ou com contratos de locação chegando ao fim. “O aluguel se torna uma forma imediata de resolver o problema, pois não é uma opção tão definitiva, como compra e venda. Ao natural já não se tem muitas opções e, com uma demanda alta, a situação fica ainda mais delicada. Por isso conversamos com vários proprietários que tinham imóveis à venda para que pudéssemos disponibilizar para a locação, pois entendemos que é um momento totalmente diferente e que as pessoas precisam ter um lugar para morar. O apelo foi atendido, assim como teve quem aceitasse reduzir o valor do aluguel. Não houve, na nossa imobiliária, nenhum caso de alguém pedindo um valor maior, se aproveitando da situação. Todo mundo sabe que agora é um momento de sermos solidários, porque todos, de alguma forma, fomos afetados”, avalia.
Prédios populares
Para o empresário do ramo imobiliário João Carlos Hilgert, o momento é totalmente atípico. Acredita que a alta demanda por alugueis seja temporária, já que as pessoas que perderam seus lares vão querer uma solução definitiva logo ali à frente. Por isso, avalia que as construções provisórias, podem ser uma boa opção para resolver o problema de forma mais rápida.
A médio prazo considera importante o município estabelecer loteamentos populares. Uma das possibilidades seria a construção de prédios populares, em diferentes locais do município, a fim de deixar as pessoas mais próximas do trabalho. Além de permitir a distribuição geográfica destas famílias, os prédios também demandam de uma área física menor, se comparado ao loteamento com casas individuais. Até por que nas partes mais próximas ao Centro e livres de enchente os terrenos são mais valorizados, ideal então para prédios e os loteamentos provavelmente encontrarão viabilidade nas partes mais afastadas.
Conforme Hilgert, a Associação dos Profissionais e Empresas da Construção Civil, Setor Imobiliário e Afins de Arroio do Meio (Apreciam), já se colocou à disposição da Administração para auxiliar na reconstrução. Reitera que é preciso fazer um levantamento de toda a área de risco, com a cota e o tipo de inundação – se teve correnteza ou não. Somente a partir deste diagnóstico é possível estabelecer regramento mais específico para novas construções.
Compra
A procura pela aquisição de imóveis também foi aquecida em função da enchente. João Carlos salienta que em Arroio do Meio muitas pessoas que tiveram as casas atingidas pela cheia têm condições de financiar um imóvel próprio. O grande empecilho é a indisponibilidade dos recursos para a entrada, que no programa Minha Casa Minha Vida é de 20%. Para ele, seria interessante se o Poder Público indenizasse as famílias que perderam as moradias e, com este valor, elas pudessem dar a entrada e pagar as taxas necessárias para financiar outro imóvel, em área segura. Em contrapartida o terreno passaria para o Poder Público que se comprometeria a não mais permitir construções no local.