Centenas de pessoas foram se despedir, de segunda para terça-feira, de Adaílton Cé que faleceu aos 82 anos. Ao lado dos dois filhos Vinicius e Alessandro e nora Patrícia, irmãos, cunhados, sobrinhos e demais familiares, amigos pessoais de longa data, colaboradores (uns com mais de 40 anos ou 30 de empresa, como Hari Hofstetter e Ermilo Jung), políticos, vizinhos, parceiros comerciais e de entidades como a Acisam onde foi presidente, passaram pelo velório. Ele foi enterrado na terça-feira de manhã no cemitério católico de Bela Vista de Arroio do Meio, com celebração do padre Décio Weber, ao som de violino e aplausos. Foi uma personalidade pública que deixou seu legado em várias frentes, inclusive familiar. Como personalidade política, era respeitado por diferentes correntes partidárias. Tinha princípios e valores conservadores tendo influenciado gerações. Foi responsável junto com o amigo de 50 anos, Roque Kerbes a convidar pessoas a se filiar ao partido, entre os quais o atual prefeito Danilo Bruxel, que esteve presente na despedida final. Os ex-prefeitos Sidnei Eckert (MDB), Paulo Backes, (PDT) e João Baptista Gasparotto também estiveram no velório de despedida.
Conhecimento e mediocridade
Filósofo, escritor, professor em Harvard e ministro de Assuntos Estratégicos no governo Lula e Dilma, Roberto Mangabeira, tem alertado e criticado as crescentes desigualdades na sociedade brasileira. Ele lamenta que o Brasil há vários governos tem sido comandado pelas alianças do rentismo financeiro que favorece bancos e outros interesses e o pobrismo com distribuição de esmolas e benefícios para os mais pobres, tornando-os mais dependentes. A decorrência deste comando é que o aparato produzido é cada vez mais desqualificado, sem as ferramentas cognitivas e competências necessárias para participar e desenvolver a economia do conhecimento. Ainda segundo Mangabeira esta queda que nos torna mais primários é disfarçada no Brasil pelas belezas naturais. As contas e o consumo urbano são pagos pela agricultura, pecuária e mineração, do qual muitos não se dão conta. Mangabeira faz outras reflexões importantes em suas entrevistas e artigos sobre a realidade brasileira. Vale pesquisar e se aprofundar.
Navegantes: um dos bairros mais atingidos
Passadas três semanas da segunda grande enchente histórica que atingiu cidades do Vale assim como outras do RS, SC, PR… vou me ater mais a Arroio do Meio que é aqui que vivemos, sem desconsiderar os sentimentos alheios, de cidades também atingidas. Ao passar pelos locais mais atingidos a premissa é de como vamos reconstruir e revitalizar locais que foram sendo edificados em 20, 30, 40 anos ou mais. Em Arroio do Meio, bairros como o São José, Aimoré, Bela Vista, Medianeira, Barra do Forqueta, Dom Pedro II e a ERS-130, tiveram áreas atingidas, mas um dos bairros mais prejudicados foi o Navegantes, por extensão a Tiradentes e o São José. Passando pelo bairro Navegantes, as cenas de devastação de casas, ruas, do Balneário, – que foi o primeiro e por muito tempo o único ponto turístico da cidade, – impressionam. As margens do rio sem vegetação e dezenas de árvores arrancadas, denunciam que a recuperação levará tempo, mas as demandas exigem decisões e ações urgentes. O bairro Navegantes (nome oficializado em 1983) teve uma importância histórica e foi por onde iniciou a industrialização, com a instalação do Frigorífico Ardomé em 1938 (coincidentemente três anos antes da grande enchente de 1941). Na época, o frigorífico atraiu mão de obra e muitos dos trabalhadores moravam no bairro que era conhecido como Praia, com casas construídas em madeira. O frigorífico fechou em 1950. Nas instalações, outras empresas operaram por um período como a Wallerius do Brasil e Girando Sol nas últimas décadas. O Navegantes no decorrer dos anos se tornou uma opção residencial agradável pela proximidade com o Centro, clima do rio e pela boa infraestrutura. A estrutura social e cultural do bairro se deu muito em torno da base educacional. As administrações públicas municipais, ao longo das últimas quatro décadas, investiram em melhorias, principalmente a partir dos anos 2000, de modo que era um bairro onde quase todos se conheciam. Depois das enchentes de setembro, além da Associação dos Menores de Arroio do Meio, a Escola Construindo Saber, o ESF 1 Navegantes (unidade de saúde) receberam reformas urgentes para o funcionamento. A Escola Comunitária Infantil Atalaia, localizada na Campos Sales, afetada duas vezes de forma severa não deverá retornar atividades naquele local passando a funcionar na Comunidade Luterana São Paulo. No bairro, foram afetados dezenas de negócios de médio e pequeno porte como mercadinhos, a tradicional Casa do Peixe, o Restaurante Bettios, MetalPedra, entre outros, mais próximos à Campos Sales que margeia o rio, ou mais em direção à área central. Dezenas de casas residenciais com elevado padrão de qualidade, muitas já construídas com dois pavimentos foram afetadas ou simplesmente levadas embora. Restam escombros. O que fazer? Se mudar para outro local ou permanecer ainda é dúvida para morado[1]res e donos de negócios, pelo menos dentro da quota que será legalmente permitido. A reconstrução não se dará por ações isoladas. Empresário que atua nas proximidades me disse que vai depender de pequenas ações rápidas e outras de médio e longo prazo no que tange aos espaços coletivos. A articulação política do poder público com entidades, a retomada das associações de moradores será fundamental para ouvir os atingidos para que em pouco tempo se possa restabelecer e transformar o que for possível. Resgatar a autoestima das pessoas, a beleza do lugar, a viabilidade do espaço geográfico com áreas de lazer será fundamental.