O que fazer diante de um desafio enorme como o que está sendo vivido pela população do Vale do Taquari e mais de 90% dos municípios gaúchos diante da sua maior catástrofe climática conhecida? Além de atingir a população de forma antes nunca vista também afeta diretamente centenas de empresas, que são responsáveis pela geração e manutenção de empregos e renda. Diante da crise, está em andamento o Projeto Conexões, adote um empresário, uma iniciativa que parte de integrantes da ACISAM de Arroio do Meio. Juliana de Vasconcellos, diretora de serviços da entidade está à frente da inciativa. Ela acredita que é preciso somar forças, se apoiar, criar pontes entre as pessoas para ampliar confiança e ações para a reconstrução e recuperação. “Não se trata apenas de recursos financeiros, mas de desenvolver e consolidar o conceito de responsabilidade social, através do qual há engajamento para buscar conhecimento e desenvolvimento para melhorar o ambiente no próprio negócio e por consequência na comunidade em que se vive. Não se pode esperar tudo do poder público, que não alcança todas as demandas. Desde que o projeto foi lançado nas redes sociais com o apoio do influencer Dr. Tetê Kerbes e Beta Weizenmann, mais de 100 empresas atingidas pelas cheias de Arroio do Meio de diferentes setores (saúde, estética, móveis, vestuários, agropecuária, alimentação…) se inscreveram e terão uma conexão com o Grupo Front e Dale Carnigie para suporte de treinamento. Pelo projeto, os inscritos serão separados por setores e haverá conexão com mentores que farão a escuta, levantando as principais necessidades para a capacitação no enfrentamento da crise.” Segundo Juliana, captar empresas para adotar as atingidas foi facilitado porque o Grupo de Arroio do Meio ligado ao Front, já tinha uma caminhada.
Dragagem emergencial
O diretor de infraestrutura Aquaviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Erik Moura, admitiu na semana passada em visita a Estrela que diante de toda a catástrofe provocada pelas enchentes é preciso encontrar formas para diminuir os impactos deixados pelas cheias. “… já sentimos a necessidade de fazer uma dragagem emergencial, estudar a foz do rio Taquari até a Lagoa dos Patos. Para a navegação vamos ter que esperar, para ver onde assoreou e o que vamos encontrar pela frente, para podermos trabalhar com dragagens, liberar a navegação e restabelecer a sinalização que foi perdida.” As dragagens dos rios e lagoas dependem da autorização da Fepam e gerenciamento da Portos -RS, responsável pelo sistema.
Dragagem diminuiria em 50% o risco de novas enchentes
Aliás, temos capacidade para detectar os problemas, e quando surgem são apontadas soluções que infelizmente não são colocadas em prática por vários motivos. Falta de recursos, ação por parte de quem cabe a responsabilidade… Na medida que os problemas são empurrados com a barriga, como se fala popularmente, o custo das tragédias é maior. Em relação à dragagem dos rios, nas enchentes de setembro e novembro, o empresário Roberto Argenta, dono da Calçados Beira Rio, defendeu, na ocasião, a medida como uma ação que poderia ser assumida pelos municípios que sofrem com as cheias. “Ao olhar para este cenário, de cheias cada vez mais constantes no Vale do Taquari, a dragagem pode levar algum tempo, mas se for feita por todos os municípios vai resolver no mínimo 50% o risco de inundações de grande proporção. Essa enchente levou mais terra e material para dentro do rio, tornando-o menos fundo. A dragagem tem que ser feita por janeiro e fevereiro, quando o rio estiver baixo. É necessário fazer. Em São Paulo, o rio Tietê e Pinheiro são frequentemente dragados, o que diminui as enchentes. Quando fui prefeito de Igrejinha há 30 anos, fizemos a dragagem e limpeza do rio Paranhana. Nunca mais houve enchente naquelas proporções. E, o material tirado do rio pode ser usado e reciclado para base de calçadas, asfalto”, disse.
DRAGAGEM NO RIO ITAJAÍ-AÇU
Começou no dia 11 de maio a dragagem do rio Itajaí-Açu em Rio do Sul-SC, município banhado pelo rio Itajaí Sul e Itajaí do Oeste. No ano passado, Rio do Sul sofreu com sete enchentes. A ação está sendo considerada pelo governo catarinense uma forma de mitigar os efeitos das cheias. Sem ser uma solução definitiva, ajuda a reduzir os impactos para a população do Alto Vale do Itajaí, que é a mais afetada. O governo catarinense deverá investir de forma emergencial R$ 16,2 milhões. O serviço abrange 8,2 quilômetros. Especialistas no assunto dizem que o desassoreamento feito pela draga facilita o fluxo da água, mas que a medida não é sufi ciente. O oceanógrafo e professor Jurandir Pereira Filho que coordena o programa de Assessoria e Monitoramento Ambiental na área de influência do rio Itajaí, argumenta que além da dragagem, devem ser tomadas outras medidas como aumentar a infiltração da água no solo (com a crescente urbanização a infiltração ficou reduzida); preservação de matas ciliares, desocupação de áreas mais frequentemente atingidas pelas cheias entre outras … Construção de barragens e lagoas de contenção com monitoramento e instalação de comportas para controlar o nível do rio, sistemas de alerta para a população também são fundamentais.
Caminhões pipa para limpeza e transporte de água
Cinco caminhões pipa do estado do Paraná e dois de Chapecó (SC) foram fundamentais na logística de apoio no município de Arroio do Meio para facilitar o transporte de água potável em algumas localidades e na limpeza das ruas. Os caminhões abasteceram diretamente no poço artesiano da Corsan, da Av. Carlos Suhre para revitalizar ruas e casas, cobertas de dejetos e lama. A força tarefa com ajuda vinda de fora usando o hidrojateamento dos equipamentos permitiu a liberação do tráfego em menor tempo. Sem a ajuda, teríamos levado pelo menos mais dois a três meses.