Nas enchentes históricas de setembro e de novembro de 2023 e a de maio de 2024 ocorridas no Rio Grande do Sul, o Vale do Taquari foi um dos mais atingidos. Os índices de alagamento anteriormente anotados, como em 1941, comparados aos episódios recentes trouxeram a necessidade de uma resposta de contenção e controle para a devastação. Fenômenos como o El Niño têm contribuído para os eventos climáticos extremos, que deixaram no RS pelo menos 247 mortes (2023 e 2024) e muitos prejuízos econômicos, sociais e culturais. Mas a omissão e aceitação não é a melhor saída.
A população quer respostas e ações, além de promessas, projetos e programas. Uma das reivindicações que parte de organizações populares é em relação às dragagens e desassoreamento dos rios e arroios. O que qualquer cidadão e empresas que pagam na fonte impostos elevados clamam é por qual razão os projetos, os programas, as políticas públicas, muitas vezes bonitos, promissores e adequados, não são cumpridos. Não deveria ser tarefa do cidadão comum ter que fiscalizar, controlar orçamentos e/ou aplicação correta dos recursos, diagnosticar capacidade de vazão dos rios, execução de leis ambientais que priorizem a sustentabilidade e convivência harmoniosa entre o homem e a natureza, com ciência e pesquisa aliada à realidade, e menos defesa meramente ideológica. O cumprimento de uma legislação ambiental, priorizando a segurança das pessoas e da natureza não é das mais simples e fáceis, mas certamente é ineficaz e irresponsável quando fica apenas nos gabinetes, em centenas de programas, que são muitas vezes apenas desengavetados quando ocorre algum evento desastroso. Em que ponto avançamos desde 1941? Há quanto tempo não se faz dragagem dos rios? Pelo visto há décadas.
Quem definiu o tipo de vegetação para as margens dos rios? Por qual razão o Plano Estadual de Recursos Hídricos não foi executado? Esperar que o desastre aconteça para depois correr atrás do prejuízo? Depois de setembro já tivemos um verão, quando os rios estavam mais baixos (já poderia ter sido feito alguma ação) e até maio, boa parte das intenções já estava esquecida. Veio novo desastre. Mais de 90% dos municípios gaúchos foram atingidos, lembrando que a Bacia Taquari-Antas abrange 119 municípios e é uma das maiores do Brasil. Centenas de pessoas ficaram desalojadas, perderam seus bens imóveis, suas casas, móveis e utensílios, histórias de vida… Perderam seus direitos de ir e vir por conta de estradas e pontes danificadas e destruídas. Não existe nenhuma novidade nestas manifestações e desabafo.
Tudo já foi dito, mas é muito preocupante quando o cidadão tem que novamente ir para a rua para exigir seus direitos. É grave quando políticas públicas e privadas não são devidamente fiscalizadas, aplicadas ou quando seus gestores não são responsabilizados por danos que causam à sociedade. A nossa esperança é que os eventos climáticos recentes nos deixem lições de como podemos ser agentes e propor mudanças, a quem delegamos responsabilidades. Que nos motivem a cobrar investigações de quem poderia ter minimizado os efeitos dramáticos das cheias. Nos façam refletir em que medida poderíamos ter contribuído.
PASSEATA DIA 20
Diante de tantas frentes de trabalho que se abriram no Rio Grande do Sul depois da devastação das cheias, a necessidade das dragagens dos rios vem sendo apontada como uma ação prioritária. Ou quase, porque há quem relativiza. Seria para se manter na zona de conforto ou fugir da responsabilidade? Uma das iniciativas positivas é a tramitação do projeto de lei de autoria do deputado Guilherme Pasin (PP) que defende uma dragagem permanente. Enquanto o projeto que cria Política Estadual de Apoio ao Desassoreamento tramita na AL, em vários municípios, há iniciativas populares que defendem a dragagem pela necessidade visível, a exemplo do grupo que surgiu em Arroio do Meio e que deverá fazer uma passeata no próximo dia 20, um sábado de manhã. Por iniciativa de um grupo de mulheres de Arroio do Meio, a bandeira da dragagem do rio Taquari, Forqueta e arroios está ganhando adesões. Muitas das pessoas que foram ou não atingidas estão se mobilizando. Participaram de duas reuniões na Câmara de Vereadores e a próxima ação será uma manifestação pública na rua João Carlos Machado clamando pela dragagem.
Uma das líderes é Rejane Kerbes, que diz que quanto maior a participação através de diferentes entidades, clubes de serviço, cor partidária, melhor. “Não podemos desistir de Arroio do Meio. Não queremos sair daqui. Precisamos defender nossa cidade. Amamos Arroio do Meio e assim tenho certeza pensa a maioria dos moradores de municípios vizinhos. Estamos cansados de promessas. Queremos ação e proteção. Entendemos que a ação é complexa, mas não se justifica que a falta de execução do que está no projeto e proposto prejudique a população.”