Em várias frentes, o Rio Grande do Sul precisa avançar. Mais ainda, depois da enchente. Acostumados a expressar nosso orgulho pelos pagos gaúchos, também devemos fazer uma autocrítica. Na minha infância e adolescência era comum ouvir um certo menosprezo pelos estados vizinhos de Santa Catarina e Paraná, considerados “mais atrasados”. Mas como estamos hoje? Talvez seja necessário visitar mais estes estados e aprender de como conseguiram dar um salto em diferentes áreas. Temos uma economia diversificada, porém dependente de políticas públicas mais assertivas, investimentos em mão de obra qualificada, menor peso para os impostos. Temos que focar numa agenda de transformação que requer investimentos e uma política arrojada, que não pode ser apenas no papel e no marketing.
As enchentes escancararam ainda mais nossas mazelas em infraestrutura aeroportuária, estradas, ferrovias que limitam nossa competividade. Em termos de infraestrutura, vimos o quão grande é nossa dependência do Salgado Filho, que felizmente está retomando suas atividades. Na questão portuária, o RS perde para Santa Catarina, que com 440 quilômetros de costa, tem seis portos e um em construção. No RS, são 600 quilômetros de costa e apenas um porto, o de Rio Grande. Há poucos dias passei pela Rodoviária de Florianópolis/ Santa Catarina e pela de Porto Alegre.
As condições da primeira em relação à da capital gaúcha causam constrangimento pelo zelo, conforto, modernidade, mesmo considerando que a de Porto Alegre esteve alagada e praticamente inoperante por 40 dias. Ela foi inaugurada em 1970, com projeto do DAER e é dirigida pela empresa Veppo & Cia Ltda. O governo do Estado anunciou investimentos de R$ 15,5 milhões e a conclusão das obras estão previstas para o fim de outubro. Mas até a semana passada pouco pôde ser visto.
Agenda de transformação 2
olhar sobre o estado também acende o alerta sobre nossa Arroio do Meio. Com uma economia diversificada, com grandes e pequenas empresas temos capacidade de nos readaptar e reinventar, em casos extremos. Como uma das cidades mais atingidas pelos eventos climáticos do ano passado e maio deste ano, muitos negócios já se realocaram. Novos empreendimentos, surgiram. Estamos prestes a encerrar um governo municipal e começar outro. A expectativa é de que o município resgate a sua condição de protagonismo na região e supere as marcas da destruição que carecem de políticas específicas ainda não encaminhadas, no menor tempo possível. Passada a fase mais crítica da catástrofe, temos que construir mudanças estruturais viáveis de médio e longo prazo. Definições de como estabelecer a quota de enchentes será fundamental para não barrar investimentos privados e públicos; resolver a questão das moradias com a liberação e clareza sobre os recursos anunciados pelo governo para tranquilizar as famílias e a ligação rodoviária da ponte da ERS-130, que esperamos que possa estar concluída até o fim do ano. A ponte será fundamental para a retomada econômica e contenção de custos que as empresas enfrentam com a logística precária.
Nova configuração política
Passadas as eleições municipais, o que ficou claro é que as urnas mostraram que o eleitor brasileiro é conservador. Os candidatos e partidos do Centro/Direita alcançaram mais vitórias e a esquerda continua perdendo cada vez mais espaço, principalmente a ala mais radical, que não consegue enxergar além da estatização e de pautas identitárias. Temos 29 partidos registrados no TSE e de uma maneira geral fica difícil limitar as siglas a uma identidade de quem milita mais à esquerda, direita ou centro porque em alguns municípios, os partidos, as alianças ou os próprios candidatos assumem posições de acordo com a realidade/necessidade regional. O PSD, por exemplo, pode ser considerado em um município, mais à esquerda, em outro mais à direita ou ainda o autêntico centrão. São apoios e alianças construídas por oportunismo ou por estratégia de viabilidade eleitoral em um único pleito ou futuro.
Nas eleições municipais que encerraram domingo com o segundo turno, o PSD de Gilberto Kassab foi o partido que elegeu mais prefeitos. É o mesmo PSD do prefeito de Chapecó, João Rodrigues, identificado como de direita e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco que tem dado guarida à Corte.
E, contextualizando, é o PSD que pela primeira vez elegeu um vereador em Arroio do Meio, Hélio Nascimento de Andrade (379 votos) por uma aposta de fundação partidária do prefeito eleito, Sidnei Eckert (MDB), no ano passado. Ao lado do PSD, o MDB vem em segundo lugar na conquista de prefeituras, com grandes vitórias em Porto Alegre e na maior cidade do Brasil, em São Paulo, com a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) com 59,35% dos votos. O MDB é um partido que se apresenta mais à esquerda ou em outros municípios mais à direita, mas mais identificado com o centro.
No seu discurso de posse como prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, um emedebista raiz, já acenou para a importância do MDB ter candidatura própria para a presidência da República. Já em São Paulo, Ricardo Nunes, no seu discurso de vitória, chamou o govenador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o grande líder, que, por sua vez, apesar do apoio irrestrito a Nunes, declara fidelidade Bolsonaro.
PARTIDOS NANICOS
Eles podem alcançar expressão através de nomes fortes. Foi o que aconteceu com o PMB – Partido da Mulher Brasileira em Curitiba. Sem espaço em outros partidos para concorrer, a jornalista Cristina Graeml, sem nunca ter concorrido a cargo político foi ao segundo turno e concorreu com o candidato de direita, Eduardo Pimentel (PSD) que venceu as eleições. Cristina identificada como de direita fez uma campanha sem estrutura partidária, mas com apoio popular, pelas suas conhecidas posições como jornalista, principalmente na Gazeta do Povo e Jovem Pan. Tem sido uma das que defende a anistia aos envolvidos nos protestos e quebra-quebra do 8 de janeiro, episódio sobre o qual escreveu um e-book com o relato de centenas de presos. Durante a pandemia questionou a eficácia da vacina.