Arroio do Meio – Ernani Wilsmann é uma pessoa que pode estufar o peito e dizer: “renasci duas vezes”. Funcionário da prefeitura cedido à Escola Municipal de Ensino Fundamental Bela Vista, teve de ser internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) após sofrer um infarto, em novembro de 2010, aos 54 anos. No diagnóstico, a necessidade de mais sangue.
O susto foi grande. A esposa, Jussara Wilsmann, foi atrás de vizinhos, parentes e amigos. Precisava de, pelo menos, dez doadores. Todos se prontificaram. Ernani recebeu cerca de quatro litros, quando pouco tempo depois teve de ser novamente internado na UTI. As veias não desobstruíram e foi necessária mais uma cirurgia.
Outro susto. Ao ter o peito aberto pelos médicos, houve excesso de sangramentos. Encerrada a cirurgia, mais uma notícia para a mulher: teria, agora, de buscar pelo menos 20 doadores de sangue em um intervalo de três meses. “A gente não imagina a importância que o doador de sangue tem até que precisa dele”, emociona-se a aposentada.
Ernani concorda. Nesta segunda luta pela vida, foram aplicados 11 litros de sangue, recolhidos de 22 doadores. “Não tenho como agradecer. Eles salvaram a minha vida.”
A campanha foi grande. Jussara conseguiu apoio não só de arroio-meenses. O filho de Gilnei Cadore, ex-secretário de Saúde de Capitão, estuda na escola. Houve uma campanha no município vizinho e a maioria dos doadores veio de lá: 14 pessoas.
Nem mesmo os oito meses de repouso forçado – com o início de uma crise de depressão – conseguiu fazê-lo esquecer do auxílio. Conseguiu alta do médico, que o permitiu voltar a trabalhar e agora já pensa em como retribuir os seus salvadores: “Quero fazer um churrasco e convidar todos eles.”
18 anos de doação
A conscientização chegou cedo para o casal Valdir e Clarice Scherer, moradores do bairro Bela Vista, em Arroio do Meio. Os dois começaram a doar sangue há 18 anos, quando a Incomex, então em atividade, realizou uma campanha de conscientização. De lá para cá, a doação é assídua.
Clarice é que teve de parar, mas só por enquanto, devido à saúde. Doava, em média, três vezes por ano, desde 1985. “Temos que nos solidarizar com os outros e doar sangue é uma forma de salvar vidas.” E espera que a atitude possa estimular outras pessoas a participarem do procedimento.
O casal foi um dos que auxiliou na recuperação de Ernani. Valdir sempre incentivou a esposa a fazer as doações e, quando um vizinho necessitou, eles estavam prontos. “O único problema é que para coletar sangue é muito demorado. Uma vez chegamos lá às 13h e só saímos às 15h”, reclama.
Apesar da demora, ela não pretende fazer como algumas pessoas – que desistiram de doar sangue. O marido continua e ela, assim que tiver autorização, retornará à boa ação.
Situação preocupante
Responsável por atender 25 municípios do Estado, a coleta de sangue é uma batalha constante para o Hemovale, de Lajeado. Para conseguir manter o estoque, iniciaram campanhas em jornais e na televisão, além da captação por meio de contatos com familiares de pacientes que receberam a transfusão de sangue.
“Muitos doadores vêm ao Banco de Sangue para realizar a sua doação. Isso tem ocorrido nos últimos dias, mas ainda continuamos com um baixo estoque de todos os tipos sanguíneos”, conta a farmacêutica bioquímica Fernanda Marca, do Hemovale. Ressalta que não cancelaram nenhum procedimento por falta de sangue, mas a situação é preocupante.
Os períodos mais críticos são os de férias e nos feriadões. Mas, existem exceções, como neste mês. Foi registrada uma brusca queda nas doações de sangue. O Hemovale recebe, em média, de 700 a 900 doadores por mês.
“A falta de sangue pode significar a perda de uma vida”
A farmacêutica bioquímica Fernanda Marca, uma das responsáveis pelo Hemovale de Lajeado, concedeu uma entrevista para o AT. Confira:
AT – Qual é a importância da doação de sangue?
O sangue é um tecido de extrema importância para o funcionamento do organismo e não pode ser substituído por nenhum outro líquido ou medicamento. Ele funciona como um transportador de substâncias, principalmente de oxigênio para todos os órgãos, sendo vital para o funcionamento do corpo humano.
AT – Como a senhora vê a ação de doar sangue?
É um ato voluntário e de extrema importância, pois é a única maneira de obtermos esta substância tão complexa e que traz tantos benefícios para o organismo quando bem indicada. Sem esquecer que se trata de um ato de solidariedade e que com uma única doação você poderá estar ajudando até três vidas.
AT – O que pode acontecer com a queda brusca nas doações?
A falta de sangue nos bancos de sangue pode significar a perda de uma vida em uma emergência médica, afinal, não temos como prever quem precisará dele nem quando.
AT – Qual é volume de sangue retirado por pessoa?
O volume de sangue que é coletado em cada doação é em torno de 450ml.
AT – Como está o estoque atual de sangue?
Depois que iniciamos as campanhas em jornais e na televisão, bem como a captação através do contato com familiares de pacientes que receberam transfusão de sangue, muitos doadores tem vindo ao Banco de Sangue para realizar sua doação. Isto tem ocorrido nos últimos dias, mas ainda continuamos com um baixo estoque de todos os tipos sanguíneos.
Não estamos cancelando nenhum procedimento por falta de sangue, mas a situação ainda é preocupante.