Conheço pessoas com talento para encontrar o presente ideal. Essas pessoas reconhecem de longe que aquele artigo ali ó é a sua cara. E é mesmo.
Este talento cresce em valor, claro, nesta fase do ano.
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Antes de seguir escrevendo, faço um registro: em geral me atucano ao pensar em presentes. Não tenho lá muito jeito. Dificilmente consigo carona na onda mais fashion. Sou capaz de gostar de caixinhas de música – na época que baixa som na internet.
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Quer ver outro exemplo?
Faz alguns dias vi o anúncio de um produto que não conhecia: uma pulseira chamada de tecnológica. A pulseira produz maravilhas e, ainda por cima, está disponível em cores variadas. Do preto ao pink, do verde limão ao metálico – não será por falta da cor favorita que alguém deixará de ter a pulseira.
Oba!
Enfim um presente ao gosto atual.
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A pulseira do anúncio era bacana, que dúvida! Sabe contar o número de calorias que o usuário consome; calcula quantos passos são dados ao longo do dia ou do período para o qual estiver ajustada e, ainda por cima, faz o monitoramento do sono. Coisa pra lá de admirável – como explicou o loquaz vendedor.
Mas desanimei da pulseira antes mesmo de um teste.
Desanimei, sabe por quê?
Desanimei ao pensar que estaria ajudando a desviar a atenção do sabor. Quem vai enfiar com prazer a colher num pudim, se ficar espiando a pulseira somar, enquanto mastiga?
Desanimei, igualmente, ao pensar como seria viver contando as passadas e, pior, comparando um dia com o outro: ontem 43.937 passos; hoje, 29.045. Comparando uma semana com a outra semana, um mês com o outro… Não, não quero ajudar a sofrer. Prefiro imaginar que é possível mexer-se bastante sem precisar calcular com a máquina aquilo que o corpo pode sentir ele mesmo.
E o monitoramento do sono?
Fico cabreira de novo. O palpite é que o costume de contar calorias e de registrar passo por passo tenha efeito contrário: liquide o sono de vez. Aí nem será necessário olhar a pulseira para saber como dorme…
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Ou seja, se for por mim, vem aí um Natal bem singelo. Mais recolhimento interior, menos presentes espertos. Mesmo que esteja totalmente fora de moda.