Em cartaz em Porto Alegre, a comédia “El amor menos pensado”, um filme argentino que tem Ricardo Darín no papel principal. A figura de Ricardo Darín vale por um convite para ir ao cinema. Ele é um ator soberbo. Neste caso aparece no papel de um professor chamado Marcelo.
A história se passa em Buenos Aires. Envolve pessoas de meia idade às voltas com as dificuldades do cotidiano, especialmente em seus relacionamentos conjugais. Em primeiro plano temos um casal – Marcelo e Ana – cujo filho único já adulto sai definitivamente de casa, para estudar na Espanha. Com a partida do filho, Marcelo e Ana olham um para o outro. A vida ficou vazia. O que vão fazer agora? Como preencher o tempo? Como levar adiante a convivência?
Ao redor do casal principal, outras coisas acontecem: festas, encontros e desencontros. Marcelo tem amigos e um deles está em apuros. Ficou pública uma foto em que aparece com uma amiga – amiga demais, digamos assim. A foto, por engano, foi parar nas redes sociais e está produzindo escândalo. Óbvio que todos nós espectadores ficamos curiosos para ver a foto e já vamos imaginando coisas escabrosas. Tanto mais que o amigo de Marcelo está devastado. A esposa não deixou barato. Ela está furiosa. Acaba de expulsar de casa o marido fotografado com a moça.
A foto é mostrada para Marcelo. Marcelo olha por um bom tempo. Enfim, concorda. A imagem é mesmo explosiva.
Minha nossa! O que estará aparecendo ali, todos nos perguntamos, doidos para ver também.
Enfim, nós os espectadores podemos ver a foto.
O que aparece é um casal rindo a mais não poder, em um teleférico. Eles estão definitivamente muito felizes juntos. E aí vem a frase de Marcelo: “nada é mais pornográfico do que a felicidade”.
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Pornográfico, neste caso, parece ter o sentido de “chocante”, “ofensivo”, “algo que produz abalo”.
A frase faz pensar.
– Por que a felicidade teria impacto tão forte, a ponto de ser considerada pornográfica?
Será que uma cena se torna agressiva pelo fato de retratar felicidade genuína?
Será que, pelo fato de buscarmos felicidade em tempo integral, estarmos nos acostumando com uma felicidade meio postiça?
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Não sei responder.
Sei que todos queremos ser e também parecer muito felizes. Talvez, mais até do que é possível.
As redes sociais estão aí para nos mostrar sorridentes, satisfeitos, saboreando pratos deliciosos, rodeados de pessoas igualmente alegres e em cenários maravilhosos. Aparentemente nossa felicidade está completa. Não falta nada.
Aparentemente…