Li na parede do boteco uma frase impressa num cartaz. De cara, achei interessante que se dessem ao trabalho de botar ali dizeres da melhor filosofia… E logo num lugar em que as comprinhas são ligeiras, onde se bebe um trago no final do dia. A frase era de Confúcio, o chinês que viveu séculos antes de Cristo. Dizia assim:
Se você acha
Que sabe todas as respostas,
É por que não fez todas as perguntas.
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Fiquei pensando. Que ideia poderia ser mais oportuna para os dias que correm? A facilidade de gritar nas redes sociais, por um lado e o aumento da vontade de exercer controles, de outro, tem contribuído para nos convencermos de que sabemos tudo. Nem é preciso ouvir o que os outros têm para dizer. Que esperança! Menos ainda, colocar na mesa as divergências, para comparar pontos de vista e, talvez, mudar o jeito de entender as coisas. Ou acrescentar um ponto novo ao regulamento que seguimos.
Nos dias que correm, a vontade de mandar, de ter a primeira e a última palavra, é o que mais conta. Cada um quer ser o dono da bola. Cada um quer dizer quem joga, como joga, quanto e quando joga. Cada um quer manter a prerrogativa de levar a bola para casa na hora em que decide não brincar mais. Está difícil produzir entendimentos…
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É o que se observa no cenário da vida política. Aqui e pelo mundo afora. Os grupos podem ser diferentes, mas têm em comum o pacote das certezas pétreas. Cada grupo, vive mergulhado nas suas próprias convicções, pouco olhando para o lado. Cada grupo conhece – ou pensa que conhece – todas as respostas. Ah! Mas se tivesse condições de modificar as perguntas que são feitas!
A sabedoria de Confúcio atravessa os séculos, sugerindo que a verdade pode ser mais longa e mais complexa do que esta que se enxerga diante do nariz.
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Ter muitas certezas pode ser antes um problema, do que uma solução. A ciência e o mundo só avançam porque alguém acha insuficiente isto que aí está. Nunca que a roda teria sido inventada, se andar a pé parecesse o máximo.
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Faria bem diminuir o número de vezes em que largamos na conversa um “tenho certeza”. Sim, claro que nós gostaríamos de ter certeza sobre tudo. Acontece que a vida não se submete ao nosso gosto. A vida nos desmente a toda a hora. E nem precisava ser uma frase de Confúcio a nos lembrar do fato. Como se diz por aí: a coisa mais óbvia pode ser a mais difícil de enxergar.