Às vésperas do feriado da semana passada ouvi muita gente fazendo planos e perguntando sobre os planos dos outros. Perguntavam e já faziam votos de um bom proveito para a folga. Tanto ouvi que fiquei desassossegada. Mas, enfim, o que é aproveitar bem um feriado?
Como ter certeza de que o dia valeu a pena?
Acabei com uma conclusão simplesinha. Talvez nem exista a resposta certa. Talvez a boa resposta seja: cada um do seu jeito.
§§§
Sei que muitos precisam se movimentar o tempo inteiro para sentir que aproveitaram. Sei que há um afã para socar em 24 horas o máximo de atividades. Sair de madrugada para a praia, por exemplo, jogar bola na areia, fazer churrasco, ir a um show e chegar de volta ao raiar do dia seguinte – pode ser uma dessas maneiras.
§§§
Mas há outras.
Seja para dar um piparote nas tecnologias, seja pelos anos que vão somando, seja o que for, penso que menos pode ser mais. E me vem à cabeça uma canção de 1970. Lembro Vinícius e Toquinho cantando “Tarde em Itapoã”, que descreve um tempo livre e aberto, junto ao mar, sem nada acontecendo, só a vida mesmo. Diz coisas assim:
Um velho calção de banho,
Um dia pra vadiar,
Um mar que não tem tamanho,
Um arco-íris no ar.
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvindo o mar de Itapoã…
§§§
Na carona de Vinícius e Toquinho também me autorizo a desenhar um jeito de curtir feriados. Se vai na contramão da tropa, dane-se. E viva a chance de sermos donos do nosso tempo – ao menos de vez em quando!
Eu fico sonhando com um dia inteiro de moleza, fartura de silêncio, fartura de sol e os passarinhos deixando ouvir que andam por perto. Um fundo de música, sim. Chimarrão, sim. Papo com gente querida, sim. A cabeça liberada para pensar, enquanto as mãos mexem em plantas, ou em gavetas, ou em panelas, ou em bordados, ou escrevem coisas… Pelo espaço de um dia, não desejar nada, não recear nada, não esperar nada, simplesmente sentir as horas, estar dentro das horas.
§§§
Depois, quando o escuro já tiver chegado, ligar a TV e certificar-se de que o mundo não acabou…