Há pelo menos cinco anos o Leão e o Mineiro são os xodós do agricultor Roberto Daldon, 48 anos, no centro de Capitão. Ele, desde cedo, manteve a tradição dos pais naturais de Linha Alegre, Clóvis, 77 anos e Adiles, 72 anos, de trabalhar artesanalmente na produção agrícola como antigamente com juntas de bois, arado e enxada.
A rotina diária de trabalho inicia cedo, às 5h30min, com a ordenha das vacas, e segue com a atividade de buscar pasto, levar os animais até a pastagem e, em épocas de plantio, preparar a terra com o arado.
Assim como Daldon, é muito comum avistar pelo interior corroças de bois transportando agricultores e sua produção. A tradição milenar ainda é mantida por muitas famílias que, por opção, mantêm o sistema mais antigo de produção em pequenas propriedades.
Pela localização geológica de Capitão, com um relevo mais montanhoso e rochoso, proprietários com pequenas áreas, muitas vezes, em encostas preferem manter o uso de arado na movimentação da terra. Já de acordo com o técnico agropecuário e extencionista da Emater, Luciano Braga Cavaletti, outros produtores em Capitão mantêm tradições antigas como o plantio, secagem manual e armazenagem do milho por conta própria, utilizando até as populares trilhadeiras no processamento do grão.
Porém, na visão de Cavaletti, o que tem impedido a continuidade do sistema tradicional de produção é o avanço da idade dos produtores. “Muitos produtores deixam a atividade com o tempo, se aposentam e passam a arrendar as áreas para outros agricultores”, descreve o técnico.
Roberto Daldon por muitos anos auxiliou o pai na avicultura. Com a necessidade de adequação e ampliação do aviário para a integradora, a atividade foi deixada de lado há três anos.
Atualmente a família foca na atividade leiteira. Os seis hectares de terra que fazem divisa com a comunidade de São Domingos sempre foram mantidos e cultivados com o auxílio das juntas de bois. Daldon possui quatro bois da raça gir/girolândo para fazer o trabalho de lavração e transporte de pastagem. O plantio é feito manualmente. Já a adubação da pastagem, com dejeto líquido, é feita com maquinário e tanques mecanizados.
Daldon explica que sempre trabalhou na lavoura e utilizou o modo artesanal para mantê-la. Além dos bois apelidados de “Leão e Mineiro”, ele, há mais de um ano, treina o “Campeão e Campeiro” e afirma que quer continuar trabalhando no mesmo formato.
Entre as principais vantagens de trabalhar artesanalmente, Daldon cita a facilidade da tração animal no preparo de terrenos mais íngremes, de difíceis acessos ao trator, além da economia com horas trabalhadas, que atualmente estão cotadas na média de R$150/hora. “Hoje, para mim, como pequeno produtor, não compensaria o investimento em maquinários e implementos”.
Daldon, ao término da entrevista, avaliou que o atual cenário ao pequeno produtor não é favorável se considerar o aumento elevado na ração e constantes reajustes no preço do leite. Na propriedade são 23 animais, sendo 11 vacas em lactação. Demais animais como terneiros, também são vendidos conforme a procura, depois de dois meses ou três meses desmamados.