Como milhões fizeram, assisti à cerimônia de encerramento das Olímpiadas de Tóquio. Da mesma forma que aconteceu com milhões, fiquei muito impressionada. É extraordinário comprovar que a humanidade pode fazer movimentos tão positivos como este de organizar uma grandiosa competição esportiva. Monta-se uma estrutura colossal para apresentar o show da superação pessoal e do esforço coletivo. Quem vence, ganha uma medalha. Quem perde, sai aplaudido por ter dado o seu melhor.
Sim, você aí está lembrando que há grandes interesses envolvidos e que haverá lucros fabulosos para estes ou aqueles.
Pode ser.
Mas este fato não chega a tirar o valor do evento. O mundo e, principalmente, os jovens têm diante dos olhos o resultado da dedicação e do talento associados. Podem se espelhar em heróis de carne e osso, heróis que são aplaudidos porque aceitaram a disciplina rigorosa como forma de obter sucesso. Não são heróis do trambique nem beneficiários de poções mágicas. E isto não é pouco.
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Vemos todos os dias cenas de fome ao lado do esbanjamento e do desperdício. Temos provas da prepotência que se dá bem. Muitas vezes bate o desânimo. A possibilidade de construir em favor de todos parece bobagem de alguns românticos. A gente chega perto de acreditar que vencedor é aquele que logra para lucrar.
Mas aí vêm as Olimpíadas a comprovar que há outros jeitos de viver. Faz lembrar a canção “Além do horizonte”, de Roberto e Erasmo Carlos, que irradia esperança. Diz que “além do horizonte deve haver um lugar bonito pra viver em paz”. Ouça a canção e veja se concorda comigo.
Os jogos olímpicos são um lugar além do horizonte. Enaltecem a cooperação e também a alegria como virtudes capazes de ir inspirando o mundo, além deste contorno sufocante em que muitas vezes nos sentimos presos.
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Falei em alegria. Na entrega das medalhas, pudemos conhecer melhor nossos atletas. Muitos tiveram de vencer a barreira da pobreza, além de superar os desafios olímpicos. Nada foi maior do que a determinação para vencer. Assim, a alegria da vitória pode transbordar com toda a legitimidade. Alegria é de fato uma das mais belas marcas nacionais.
Vivi fora do Brasil e viajei por dezenas de países. Pude sempre comprovar a admiração que nosso país desperta. Mas não vá pensar aí que a admiração vem por conta do extensão territorial, das riquezas inexploradas ou do próprio futebol. Nosso país é admirado antes pelas virtudes imateriais. Principalmente, pela capacidade de celebrar a vida.
Vale pensar nisso, sempre que a desesperança quiser baixar.